Eu já tinha ido ao Congresso algumas vezes. Uma deve ter sido nessas visitas de escola há quase uma década. Voltei ano passado pra trabalhar, se não me falha a memória... Fui de apêndice da minha chefe na época. Ela ia fazer uma grande matéria pro Ministério da Defesa e eu ia "aprender com quem sabe".
Não prestei atenção em quem ela entrevistava, confesso. Queria ver quem os jornalistas de redação mesmo estavam entrevistando, o que estava acontecendo no tapete verde e no azul. Olhava meio embasbacada como aquele lugar é ENORME, bonito e cheio de carpete. Quanta coisa acontece ali todos os dias...
Enquanto minha chefe entrevista o Jucá. O Romero, que na época eu não sabia quem era, eu fiquei viajando no corredor das Comissões. Até que eu me deparo com um rosto conhecido, sentado em uma sala de comissão vazia, lendo um papel que havia sido distribuido ha pouco por uma assessora qualquer. Eu conhecia aquele cara de algum lugar... Cabelos bem pretos, terno, cara mesmo de político. Eu não queria ficar encarando, mas também não conseguia pensar em coisa alguma. Quem é ele? De onde eu conheço esse cara? A chefe e a fotógrafa passam por mim, me agarram pelo braço e corremos atrás de um outro senador qualquer para dar a opinião sobre um assunto qualquer. No último instante, quando ele olha pra mim...
Era o Collor. Só o Collor.
Sentado ali, com toda aquela história política e jornalística por trás. Quantas coisas eu já sabia dele, tinha lido sobre ele, tinha visto na TV... e agora eu estava ali, na cara dele. Ok, sem grandes deslumbramentos...
A outra vez que fui ao Congresso doi sozinha, mas também pelo MD. Eu ia acompanhar um grupo de adidos militares e aproveitei para ver de perto também o Salão Verde, o Azul, os plenários e o Túnel do Tempo. Vi pela primeira -- ainda a únca -- vez o desenho da bandeira do Brasil no carpete do Senado, vi uma das cenas clássicas de um senador falando pra ninguém e esbarrei com o Supla-pai.
A matéria ficou legal, tirei foto com as esposas e filhas de adidos e fui pra casa satisfeita.
E então só voltei ao Congresso ontem. Não sabia se ia conseguir sair do trabalho à tempo, mas o Thadeu me incentivou a conhecer de verdade the dark side of the force. E lá fomos nós, com a desculpa de fazer um trabalho para a faculdade, mas na verdade para ele me mostrar como as coisas funcionam. Às 16h30 ele me buscou na frente do Correio. Ele me alertou que precisava de força física. Não acreditei. Até chegar no estacionamento, longe à beça do Congresso. Eu pensava: Vou matar o Thadeu. Olha o tanto que ele quer que eu ande!!
Era um desses dias nublados, mas calorentos. Estávamos pingando. Até que, como um oasis, surge uma tendinha com banquinhos. Sentamos ali e, em menos de cinco minutos, uma van parou nos oferecendo ar condicionado, bancos confortáveis e som nenhum até a Câmara. Quase beijei os pneus.
Chegamos à Câmara dos Deputados, a concha virada pra cima. O Thadeu falou a senha mágica, eu dei a minha carteira de identidade. Entramos e fizemos o mesmo na passagem do Salão Verde paro Azul -- Câmara/Senado. Fomos ao cafezinho, mas pedimos duas águas; ele me explicou por onde os jornalistas entravam, por onde os deputados entravam e saíam e como a gente deveria agir: "Temos que andar", ele repetia. Eu pensei que tivéssemos que ficar ali perto da sala onde a CPI dos cartões estava sendo discutida e logo sairia algum senador louco por uma entrevista. Mas não demorou muito para a opção do Thadeu vencer. E a minha, claro, perder. Andando de um lado para o outro, víamos nada mais que jornalistas e visitas, então resolvemos ocupar o tempo com conversinhas bestas. Mas tudo foi interrompido no Túnel do Tempo. Ideli Salvatti, a líder do governo no Senado! "Vamos correr!". Ela tinha parado tudo para responder a Record, mas nós dois tivemos que segui-la até o elevador, ela estava "com pressa". Meu gravador estava sem uma pilha -- a coisa mais esquisita do mundo -- então eu fingia que anotava e o Thadeu fazia o trabalho sujo de quase enfiar o aparelhinho na boca da senadora. E de fazer as perguntas, já que eu tinha planejado algumas, mas o assessor dela me tirou do ritmo:
"Qual o seu nome?", perguntou o assessor hiperativo, com um terno marrom burro quando foge. "Juliana", respondi e voltei minhas atenções pra ela. "Juliana de quê?". "Boechat". "Ahh". "De onde você é?", ele perguntou. Isso, no jargão jornalístico, significa: "Em qual jornal, revista e afins você trabalha?". "Correio Braziliense", respondi. Ele deu um sorrisinho e me deixou prestar atenção na entrevista de novo, mas aí eu já tinha perdido o fio da meada e o Thadeu logo terminou as perguntas. Aí foi a vez do Thadeu enfrentar o questionário. "De onde você é?", o assessor de novo pro meu amigo engravatado. "Da Carta (Capital)", ele. Depois de três tapinhas nas costas, ele olha pra gente e faz movimento com os dedos: "Depois passem lá no gabinete pra gente conversar".
A gente saiu rindo. Somos meros estagiários e mesmo em trabalho para a faculdade, falamos aqui tudo sem pensar. E o resultado final acabou sendo inesperado.
Paramos ainda um tempo na porta de vidro preta onde está acontecendo a CPI dos Cartões Corporativos esperando o Arthur Virgílio sair. Mas ele, como bom líder da oposição, não deixaria o circo pegando fogo e sairia assim, do nada, não é mesmo? Então Thadeu olha pra mim: "Vamos andar!". Oh no! Reclamei, já queria sentar. Quando passamos pro Salão Verde e voltamos pro Azul, Filipe Coutinho, o estagiário de Política, fala animadasso: "Olha quem tá ali!!!". E eu, Juliana Boechat, estagiária de Cidades, atônita: "Queeeem?", olhando de um lado para o outro. Era o Álvaro Dias, um senador que pinta o cabelo de acaju. Ele era o centro das atenções no dia porque tinha confessado ser o responsável pelo vazamento do dossiê que estava acabando com a imagem da Dilma, na Casa Civil.
"Quem está ali, Thadeu?! De que partido essa pessoa é?", enquanto apressávamos o passo e eu ainda não tinha visto ninguém. "PSDB, Juliana, ELE é o Álvaro Dias". E aí corri de vez. Ele ia falar com a Globo e ninguém -- repito, ninguém -- empaca trabalhos globais. Fizemos duas perguntas.... mentira, o Thadeu fez, e nós fomos embora. A essa altura eu já tinha tirado meu crachá e, quando agradeci o tempo concedido, recebi só uma olhada de cima a baixo e um sorrisinho de "quem é você mesmo?".
A apuração para o trabalho da faculdade estava feita.
Não prestei atenção em quem ela entrevistava, confesso. Queria ver quem os jornalistas de redação mesmo estavam entrevistando, o que estava acontecendo no tapete verde e no azul. Olhava meio embasbacada como aquele lugar é ENORME, bonito e cheio de carpete. Quanta coisa acontece ali todos os dias...
Enquanto minha chefe entrevista o Jucá. O Romero, que na época eu não sabia quem era, eu fiquei viajando no corredor das Comissões. Até que eu me deparo com um rosto conhecido, sentado em uma sala de comissão vazia, lendo um papel que havia sido distribuido ha pouco por uma assessora qualquer. Eu conhecia aquele cara de algum lugar... Cabelos bem pretos, terno, cara mesmo de político. Eu não queria ficar encarando, mas também não conseguia pensar em coisa alguma. Quem é ele? De onde eu conheço esse cara? A chefe e a fotógrafa passam por mim, me agarram pelo braço e corremos atrás de um outro senador qualquer para dar a opinião sobre um assunto qualquer. No último instante, quando ele olha pra mim...
Era o Collor. Só o Collor.
Sentado ali, com toda aquela história política e jornalística por trás. Quantas coisas eu já sabia dele, tinha lido sobre ele, tinha visto na TV... e agora eu estava ali, na cara dele. Ok, sem grandes deslumbramentos...
A outra vez que fui ao Congresso doi sozinha, mas também pelo MD. Eu ia acompanhar um grupo de adidos militares e aproveitei para ver de perto também o Salão Verde, o Azul, os plenários e o Túnel do Tempo. Vi pela primeira -- ainda a únca -- vez o desenho da bandeira do Brasil no carpete do Senado, vi uma das cenas clássicas de um senador falando pra ninguém e esbarrei com o Supla-pai.
A matéria ficou legal, tirei foto com as esposas e filhas de adidos e fui pra casa satisfeita.
E então só voltei ao Congresso ontem. Não sabia se ia conseguir sair do trabalho à tempo, mas o Thadeu me incentivou a conhecer de verdade the dark side of the force. E lá fomos nós, com a desculpa de fazer um trabalho para a faculdade, mas na verdade para ele me mostrar como as coisas funcionam. Às 16h30 ele me buscou na frente do Correio. Ele me alertou que precisava de força física. Não acreditei. Até chegar no estacionamento, longe à beça do Congresso. Eu pensava: Vou matar o Thadeu. Olha o tanto que ele quer que eu ande!!
Era um desses dias nublados, mas calorentos. Estávamos pingando. Até que, como um oasis, surge uma tendinha com banquinhos. Sentamos ali e, em menos de cinco minutos, uma van parou nos oferecendo ar condicionado, bancos confortáveis e som nenhum até a Câmara. Quase beijei os pneus.
Chegamos à Câmara dos Deputados, a concha virada pra cima. O Thadeu falou a senha mágica, eu dei a minha carteira de identidade. Entramos e fizemos o mesmo na passagem do Salão Verde paro Azul -- Câmara/Senado. Fomos ao cafezinho, mas pedimos duas águas; ele me explicou por onde os jornalistas entravam, por onde os deputados entravam e saíam e como a gente deveria agir: "Temos que andar", ele repetia. Eu pensei que tivéssemos que ficar ali perto da sala onde a CPI dos cartões estava sendo discutida e logo sairia algum senador louco por uma entrevista. Mas não demorou muito para a opção do Thadeu vencer. E a minha, claro, perder. Andando de um lado para o outro, víamos nada mais que jornalistas e visitas, então resolvemos ocupar o tempo com conversinhas bestas. Mas tudo foi interrompido no Túnel do Tempo. Ideli Salvatti, a líder do governo no Senado! "Vamos correr!". Ela tinha parado tudo para responder a Record, mas nós dois tivemos que segui-la até o elevador, ela estava "com pressa". Meu gravador estava sem uma pilha -- a coisa mais esquisita do mundo -- então eu fingia que anotava e o Thadeu fazia o trabalho sujo de quase enfiar o aparelhinho na boca da senadora. E de fazer as perguntas, já que eu tinha planejado algumas, mas o assessor dela me tirou do ritmo:
"Qual o seu nome?", perguntou o assessor hiperativo, com um terno marrom burro quando foge. "Juliana", respondi e voltei minhas atenções pra ela. "Juliana de quê?". "Boechat". "Ahh". "De onde você é?", ele perguntou. Isso, no jargão jornalístico, significa: "Em qual jornal, revista e afins você trabalha?". "Correio Braziliense", respondi. Ele deu um sorrisinho e me deixou prestar atenção na entrevista de novo, mas aí eu já tinha perdido o fio da meada e o Thadeu logo terminou as perguntas. Aí foi a vez do Thadeu enfrentar o questionário. "De onde você é?", o assessor de novo pro meu amigo engravatado. "Da Carta (Capital)", ele. Depois de três tapinhas nas costas, ele olha pra gente e faz movimento com os dedos: "Depois passem lá no gabinete pra gente conversar".
A gente saiu rindo. Somos meros estagiários e mesmo em trabalho para a faculdade, falamos aqui tudo sem pensar. E o resultado final acabou sendo inesperado.
Paramos ainda um tempo na porta de vidro preta onde está acontecendo a CPI dos Cartões Corporativos esperando o Arthur Virgílio sair. Mas ele, como bom líder da oposição, não deixaria o circo pegando fogo e sairia assim, do nada, não é mesmo? Então Thadeu olha pra mim: "Vamos andar!". Oh no! Reclamei, já queria sentar. Quando passamos pro Salão Verde e voltamos pro Azul, Filipe Coutinho, o estagiário de Política, fala animadasso: "Olha quem tá ali!!!". E eu, Juliana Boechat, estagiária de Cidades, atônita: "Queeeem?", olhando de um lado para o outro. Era o Álvaro Dias, um senador que pinta o cabelo de acaju. Ele era o centro das atenções no dia porque tinha confessado ser o responsável pelo vazamento do dossiê que estava acabando com a imagem da Dilma, na Casa Civil.
"Quem está ali, Thadeu?! De que partido essa pessoa é?", enquanto apressávamos o passo e eu ainda não tinha visto ninguém. "PSDB, Juliana, ELE é o Álvaro Dias". E aí corri de vez. Ele ia falar com a Globo e ninguém -- repito, ninguém -- empaca trabalhos globais. Fizemos duas perguntas.... mentira, o Thadeu fez, e nós fomos embora. A essa altura eu já tinha tirado meu crachá e, quando agradeci o tempo concedido, recebi só uma olhada de cima a baixo e um sorrisinho de "quem é você mesmo?".
A apuração para o trabalho da faculdade estava feita.
Eu estava encantada.
O nosso dia tinha acabado. Foi tão fácil falar com eles, mas seria também tão fácil nunca encontrá-los.
Experiência válida, graças ao Filipe Thadeu Coutinho. Passamos no cafezinho para uma última copada de água para comemorar.
Mas não poderia ter acontecido sem uma última parte. A mais divertida, a mais exótica: o gabinete do Clodovil, em que a porta, por si só, já fala tudo. Fica no quarto andar do anexo, pouco acessível ao povo-povo. Assim que chegamos lá, tinha três amigos engravatados tirando foto na frente de duas portas, uma amarela e uma verde. Quando eles sairam da frente, um C e um H em caixas imperiais. A sala dele fica de frente para o corredor, chamando mais atenção que já chamaria normalmente. E ali dentro fica aquele personagem looouco, com o gabinete mais decorado de todo o Congresso, que custou R$200 mil. Do bolso dele.
O nosso dia tinha acabado. Foi tão fácil falar com eles, mas seria também tão fácil nunca encontrá-los.
Experiência válida, graças ao Filipe Thadeu Coutinho. Passamos no cafezinho para uma última copada de água para comemorar.
Mas não poderia ter acontecido sem uma última parte. A mais divertida, a mais exótica: o gabinete do Clodovil, em que a porta, por si só, já fala tudo. Fica no quarto andar do anexo, pouco acessível ao povo-povo. Assim que chegamos lá, tinha três amigos engravatados tirando foto na frente de duas portas, uma amarela e uma verde. Quando eles sairam da frente, um C e um H em caixas imperiais. A sala dele fica de frente para o corredor, chamando mais atenção que já chamaria normalmente. E ali dentro fica aquele personagem looouco, com o gabinete mais decorado de todo o Congresso, que custou R$200 mil. Do bolso dele.