Pauta de capa sugerida em 24.03.08
Escrito por:
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Adriana Bernardes
Da equipe do Correio
Uma invasão de motocicletas transforma o trânsito no Distrito Federal. Desde 2000, em média, 25 motos entram em circulação a cada dia na capital do país. O aumento da frota nos últimos sete anos e dois meses chega a 254%. Isso representa mais do que o dobro do crescimento registrado no Rio de Janeiro. E é três vezes e meia maior do que o ocorrido em São Paulo no mesmo período.
Atualmente, 91.924 motocicletas trafegam pelas ruas e avenidas da capital do país. Há sete anos, eram 25.973 (veja quadro). Em São Paulo, o crescimento da frota (de 658.973) foi de 74% e no Rio de Janeiro (de 153.750), de 102% no mesmo período. Na cidade que tem em média um carro para cada dois habitantes e está prestes a alcançar a marca de 1 milhão de veículos, o crescimento da frota de motos só piora a situação. Ainda mais que, por serem mais vulneráveis, os motoqueiros normalmente levam a pior em caso de acidente.
Para o diretor do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Délio Cardoso, o aumento do número de motocicletas no trânsito brasiliense pode ser explicado por causa das facilidades em adquirir o veículo de duas rodas. É ainda mais barato do que um carro e várias concessionárias permitem prestações a perder de vista. “O poder aquisitivo do brasiliense é um dos mais altos do país. Além disso, ainda não temos, lamentavelmente, um transporte público de qualidade”, avalia Délio Cardoso.
Ele prevê a estabilização da frota assim que o projeto Brasília Integrada for concluído. Por meio dele, o governo pretende oferecer um transporte público rápido, integrado e de qualidade, além de melhorar o sistema viário do DF. “A moto não contribui para engarrafamento. Mas exige mais cuidado do motorista”, afirma Délio.
As mudanças no trânsito são facilmente percebidas. Basta prestar atenção ao semáforo. Sempre que a luz vermelha acende , os motociclistas, a maioria com caixas no espaço do carona, trafegam pelo corredor — espaço entre um carro e outro— e param à frente dos veículos. Quando o sinal abre, eles são os primeiros a arrancar. A cena ocorre nos principais cruzamentos do Plano Piloto, Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. É a prova de que os serviços de motoboy ganham a preferência de empresas de telentrega. Trafegar pelo corredor, no entanto, é proibido pelo Código de Trânsito Brasileiro. Mas não é a única imprudência.
De cada 10 motos apreendidas pela fiscalização do Detran-DF, quatro são por falta de habilitação do piloto. Há nove dias, um motoclista sem carteira atropelou e matou o comerciante Keiji Kubota, 68 anos, que atravessava em uma faixa de pedestres em Sobradinho II. A neta da vítima, de apenas 7 anos, assistiu a tudo.
Ziguezague
O Correio percorreu a área central do Plano Piloto, de Taguatinga e a Via Estrutural na última sexta-feira. Flagrou motociclistas ziguezagueando entre os carros, em manobras de retorno proibido e trafegando em alta velocidade. Eram 8h50, quando os policiais da Companhia de Polícia Rodoviária Militar se preparavam para liberar a Estrutural sentido Plano Piloto-Taguatinga. Enquanto os carros faziam fila um atrás do outro, as motos se aglomeravam na frente. Às 9h, eram 15 no total. Entre eles, o motoboy Euzelton Lucas Viana, 27 anos. Ele vendia jornais no semáforo, mas, há um ano, decidiu trocar de ramo. “Este (motoboy) é o mercado que mais cresce. Diariamente, a gente vê muitos acidentes. Mas quem tem atenção, não se machuca”, afirmou.
Conversar com motoristas e motociclistas sobre a convivência no trânsito implica ouvir trocas de acusações. O comerciante Carlos José Vieira 37 anos, anda mais cauteloso. “Esses motoqueiros andam entre os carros. A maioria dos acidentes que a gente vê por aí, é por conta disso. Eles não costumam respeitar a sinalização”, reclamou. “O problema é que o motorista não respeita a gente. Acha que porque o carro é maior, pode fazer o que quiser e você tem que se virar para não bater nem se desequilibrar, desabafou o pintor Elias Andrade da Silva, 30, morador do Setor P Norte. Há um ano, ele usa a moto como meio de transporte. “É mais rápido e barato que o carro. E de ônibus não dá”, completou.
Entre os motociclistas, existem os que usam a moto como meio de transporte, os que dependem dela para conseguir o sustento e os que são apaixonados pelo veículo. O professor de educação física e empresário Wilson Phillip, 44 anos, se enquadra no último perfil. Chegou a ter quatro motos na garagem. Sofreu cinco acidentes de trânsito, em três deles, só usava sunga e tênis. A causa foi a imaturidade, a inexperiência e a irresponsabilidade. Eu corria muito. Achava que não ia dar tempo de chegar aos lugares. Pegava a moto e acelerava, confessou. O mais grave deles resultou na lesão de um músculo responsável pelos movimentos das mãos. Wilson demorou quase três meses para recuperá-los.
A paixão de Wilson por motos só não falou mais alto que o amor pelas filhas Camila, 18 anos, Yasmin, 15 e Bruna, 4 anos. Por elas, decidiu vender as motocicletas. A última delas, há quatro anos, quando Bruna nasceu. Mas o capacete ele guarda até hoje. “Não vendo, não empresto e não dou”, brincou. Wilson admite que está tentado a voltar a pilotar. “Mas só se a minha mulher deixar. Ultimamente está ainda mais arriscado do que no passado. O trânsito está muito pesado. Se eu tiver outra moto, será para matar a saudade de vez em quando”, disse.
Acidentes aumentam
O crescimento da frota de motos também piora as estatísticas de acidentes e de mortes de motociclistas no trânsito do Distrito Federal. Em 2000, a equipe de resgate do Corpo de Bombeiros atendeu 1.076 chamados envolvendo motoqueiros. Esse número subiu para 5.837 no ano passado — um crescimento de 442,4%. As mortes também ficaram mais freqüentes: aumento de 114% no mesmo período.
Uma das vítimas da carnificina que se tornou o trânsito das motocicletas é a família Leal. O gerente comercial Antônio Celso Leal, então com 40 anos, trafegava pela pista de ligação do Eixão Sul com o balão do Aeroporto, quando o carro da frente freou bruscamente para fazer um retorno. Celso bateu na traseira do veículo. Fraturou a costela e teve um dos pulmões perfurado. Morreu três minutos após a colisão.
A tragédia ocorreu há cinco anos. A funcionária pública Selma do Rego Leal, 38, perdeu o marido no dia em que o filho caçula completava 7 anos. “Ele veio em casa só para almoçar com a família e comemorar o aniversário do mais novo”, relembrou. O motorista do carro era um homem de 83 anos, que, segundo a família, não prestou socorro. Uma testemunha anotou a placa e ele foi julgado e condenado. “Só nós perdemos nesta história toda. De tudo, fica só a saudade”, desabafou.
Na noite de sexta-feira, mais um motociclista perdeu a vida nas pistas do Distrito Federal. Por volta de 22h, Ademir Silva Souza, de 26 anos, conduzia a Honda Titan KS (KFA-3545/DF), no terminal de cargas do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Segundo a Polícia Civil, Admir perdeu o controle da moto e colidiu no meio-fio. Ele estava de capacete, mas não resistiu aos ferimentos. As causas do acidente são investigadas pela 8ª DP (Estrutural/SIA).
Formação ruim
O diretor do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Délio Cardoso, acredita que parte do problema se deve à má formação dos motociclistas. “Ele tira carteira por necessidade, mas não sai da auto-escola preparado. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) não nos permite incrementar novas exigências ao exame prático”, disse.
O professor Joaquim Aragão, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), avalia que o crescimento da frota de motos é um voto negativo da população ao transporte coletivo de Brasília. Na opinião dele, as autoridades de trânsito terão de estabelecer novas gestões de circulação para diminuir os acidentes e as mortes que envolvem motoqueiros. “Há que pensar no estreitamento de uma faixa destinada exclusivamente aos motociclistas”, sugeriu. Mas, para ele, a principal arma do poder público é o investimento na educação. “É preciso incrementar as campanhas educativas para motociclistas e motoristas. Eles precisam entender que a convivência deve ser harmoniosa”, concluiu Aragão.
Em uma reunião da Associação Nacional dos Detrans, na última quinta-feira, ficou decidido que a emissão da carteira de motociclista deve ser mais rigorosa. Assim como a transferência de pontos da Carteira Nacional de Habilitação. A proposta será formulada por Délio Cardoso — que também é diretor regional da Agência Nacional dos Detrans — e entregue ao deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), relator do projeto de lei que deve modificar o Código de Trânsito Brasileiro. (AB)
Exigências da lei
O serviço de motoboy acaba de ser regulamentado no Distrito Federal. A medida vai mudar a rotina de 25 mil trabalhadores. Se, por um lado, o reconhecimento da profissão é uma conquista para quem encontrou no motociclismo um meio de subsistência, de outro, possibilitará ao poder público controlar o setor.
As exigências são rigorosas e devem tirar do mercado quem trabalha no improviso. O colete, o capacetes e as motos serão padronizados. As regras já estão valendo, mas o prazo para adequação é de seis meses. As exigências estão detalhadas na edição de 19 de março do Diário Oficial do Distrito Federal. Por meio do Decreto nº 28.880, de 18 de março, o governo definiu que o sistema de transportes e prestação de serviços com a utilização de motocicletas, ou moto-frete, “é um serviço público com veículo de aluguel”. Sendo de aluguel, a moto deverá ter a placa especial, pintada nas cores vermelha e branca. Caberá ao Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) fazer o registro do veículo tipo motocicleta na categoria aluguel, conforme regulamentação da Resolução nº 219/2007 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Para trabalhar como motoboy, o motociclista terá de conseguir dois documentos: o Certificado de Qualificação de Motociclista e a Licença Moto-frete, ambos expedidos pela Secretaria de Transportes. O primeiro é um atestado de que o motociclista está habilitado a atuar no serviço de moto-frete. O segundo é uma autorização do governo para que ele exerça a função no DF.
Colete, capacete e antena
O motoboy terá de usar colete e capacete diferenciados dos demais. A moto deverá ter uma antena anti-cerol. E o profissional só poderá transportar produtos que caibam dentro do baú da motocicleta. O tamanho do baú será padronizado. Deve medir no máximo 60 cm de largura por 70 cm de altura. O comprimento não poderá ultrapassar a extremidade traseira do veículo. Já a grelha — suporte de fixação do baú — deverá ter largura máxima de 60 cm e comprimento que não ultrapasse a extremidade traseira da moto (veja arte acima).
Pouco mais de uma semana após a publicação do decreto de regulamentação do serviço, o motoboy Rodrigo Lopes da Silva, 35 anos, já desfilava com o colete diferenciado. “Isso aqui dá 100% de visibilidade. É muito melhor”, afirmou. No entanto, Rodrigo desconhecia as novas regras para a motocicleta, baú e capacete. “Isso aí não ouvi dizer, mas acho certo”, disse.
Na avaliação do vice-presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF (Sindmoto), Luiz Carlos Galvão, a regulamentação vai mudar radicalmente o setor. “Quem quiser ficar, ou entrar no mercado, vai ter de se preparar. Fazer curso. Isso é muito bom”, avaliou. Os coletes e capacetes diferenciados vão destacar o profissional do usuário comum. “Se acontecer qualquer coisa, estará claro, para quem quiser ver, qual das duas categorias fez bobagem”, completou. O governo doou os primeiros 1 mil coletes — patrocinados pelo Branco de Brasília — ao Sindmoto. Eles estão sendo distribuídos entre os filiados.
O governo também terá de se preparar para cobrar dos motoboys as regras do decreto. O secretário de Transportes, Alberto Fraga, explicou que caberá à sua secretaria, licenciar, gerir e administrar o serviço de moto-frete. O DF-Trans terá a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento das exigências. “Em 6 de abril teremos concurso com 200 vagas para o DF-Trans. Precisamos definir uma área específica para as vistorias aconteçam” completou Fraga. (AB)
Da equipe do Correio
Uma invasão de motocicletas transforma o trânsito no Distrito Federal. Desde 2000, em média, 25 motos entram em circulação a cada dia na capital do país. O aumento da frota nos últimos sete anos e dois meses chega a 254%. Isso representa mais do que o dobro do crescimento registrado no Rio de Janeiro. E é três vezes e meia maior do que o ocorrido em São Paulo no mesmo período.
Atualmente, 91.924 motocicletas trafegam pelas ruas e avenidas da capital do país. Há sete anos, eram 25.973 (veja quadro). Em São Paulo, o crescimento da frota (de 658.973) foi de 74% e no Rio de Janeiro (de 153.750), de 102% no mesmo período. Na cidade que tem em média um carro para cada dois habitantes e está prestes a alcançar a marca de 1 milhão de veículos, o crescimento da frota de motos só piora a situação. Ainda mais que, por serem mais vulneráveis, os motoqueiros normalmente levam a pior em caso de acidente.
Para o diretor do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Délio Cardoso, o aumento do número de motocicletas no trânsito brasiliense pode ser explicado por causa das facilidades em adquirir o veículo de duas rodas. É ainda mais barato do que um carro e várias concessionárias permitem prestações a perder de vista. “O poder aquisitivo do brasiliense é um dos mais altos do país. Além disso, ainda não temos, lamentavelmente, um transporte público de qualidade”, avalia Délio Cardoso.
Ele prevê a estabilização da frota assim que o projeto Brasília Integrada for concluído. Por meio dele, o governo pretende oferecer um transporte público rápido, integrado e de qualidade, além de melhorar o sistema viário do DF. “A moto não contribui para engarrafamento. Mas exige mais cuidado do motorista”, afirma Délio.
As mudanças no trânsito são facilmente percebidas. Basta prestar atenção ao semáforo. Sempre que a luz vermelha acende , os motociclistas, a maioria com caixas no espaço do carona, trafegam pelo corredor — espaço entre um carro e outro— e param à frente dos veículos. Quando o sinal abre, eles são os primeiros a arrancar. A cena ocorre nos principais cruzamentos do Plano Piloto, Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. É a prova de que os serviços de motoboy ganham a preferência de empresas de telentrega. Trafegar pelo corredor, no entanto, é proibido pelo Código de Trânsito Brasileiro. Mas não é a única imprudência.
De cada 10 motos apreendidas pela fiscalização do Detran-DF, quatro são por falta de habilitação do piloto. Há nove dias, um motoclista sem carteira atropelou e matou o comerciante Keiji Kubota, 68 anos, que atravessava em uma faixa de pedestres em Sobradinho II. A neta da vítima, de apenas 7 anos, assistiu a tudo.
Ziguezague
O Correio percorreu a área central do Plano Piloto, de Taguatinga e a Via Estrutural na última sexta-feira. Flagrou motociclistas ziguezagueando entre os carros, em manobras de retorno proibido e trafegando em alta velocidade. Eram 8h50, quando os policiais da Companhia de Polícia Rodoviária Militar se preparavam para liberar a Estrutural sentido Plano Piloto-Taguatinga. Enquanto os carros faziam fila um atrás do outro, as motos se aglomeravam na frente. Às 9h, eram 15 no total. Entre eles, o motoboy Euzelton Lucas Viana, 27 anos. Ele vendia jornais no semáforo, mas, há um ano, decidiu trocar de ramo. “Este (motoboy) é o mercado que mais cresce. Diariamente, a gente vê muitos acidentes. Mas quem tem atenção, não se machuca”, afirmou.
Conversar com motoristas e motociclistas sobre a convivência no trânsito implica ouvir trocas de acusações. O comerciante Carlos José Vieira 37 anos, anda mais cauteloso. “Esses motoqueiros andam entre os carros. A maioria dos acidentes que a gente vê por aí, é por conta disso. Eles não costumam respeitar a sinalização”, reclamou. “O problema é que o motorista não respeita a gente. Acha que porque o carro é maior, pode fazer o que quiser e você tem que se virar para não bater nem se desequilibrar, desabafou o pintor Elias Andrade da Silva, 30, morador do Setor P Norte. Há um ano, ele usa a moto como meio de transporte. “É mais rápido e barato que o carro. E de ônibus não dá”, completou.
Entre os motociclistas, existem os que usam a moto como meio de transporte, os que dependem dela para conseguir o sustento e os que são apaixonados pelo veículo. O professor de educação física e empresário Wilson Phillip, 44 anos, se enquadra no último perfil. Chegou a ter quatro motos na garagem. Sofreu cinco acidentes de trânsito, em três deles, só usava sunga e tênis. A causa foi a imaturidade, a inexperiência e a irresponsabilidade. Eu corria muito. Achava que não ia dar tempo de chegar aos lugares. Pegava a moto e acelerava, confessou. O mais grave deles resultou na lesão de um músculo responsável pelos movimentos das mãos. Wilson demorou quase três meses para recuperá-los.
A paixão de Wilson por motos só não falou mais alto que o amor pelas filhas Camila, 18 anos, Yasmin, 15 e Bruna, 4 anos. Por elas, decidiu vender as motocicletas. A última delas, há quatro anos, quando Bruna nasceu. Mas o capacete ele guarda até hoje. “Não vendo, não empresto e não dou”, brincou. Wilson admite que está tentado a voltar a pilotar. “Mas só se a minha mulher deixar. Ultimamente está ainda mais arriscado do que no passado. O trânsito está muito pesado. Se eu tiver outra moto, será para matar a saudade de vez em quando”, disse.
Acidentes aumentam
O crescimento da frota de motos também piora as estatísticas de acidentes e de mortes de motociclistas no trânsito do Distrito Federal. Em 2000, a equipe de resgate do Corpo de Bombeiros atendeu 1.076 chamados envolvendo motoqueiros. Esse número subiu para 5.837 no ano passado — um crescimento de 442,4%. As mortes também ficaram mais freqüentes: aumento de 114% no mesmo período.
Uma das vítimas da carnificina que se tornou o trânsito das motocicletas é a família Leal. O gerente comercial Antônio Celso Leal, então com 40 anos, trafegava pela pista de ligação do Eixão Sul com o balão do Aeroporto, quando o carro da frente freou bruscamente para fazer um retorno. Celso bateu na traseira do veículo. Fraturou a costela e teve um dos pulmões perfurado. Morreu três minutos após a colisão.
A tragédia ocorreu há cinco anos. A funcionária pública Selma do Rego Leal, 38, perdeu o marido no dia em que o filho caçula completava 7 anos. “Ele veio em casa só para almoçar com a família e comemorar o aniversário do mais novo”, relembrou. O motorista do carro era um homem de 83 anos, que, segundo a família, não prestou socorro. Uma testemunha anotou a placa e ele foi julgado e condenado. “Só nós perdemos nesta história toda. De tudo, fica só a saudade”, desabafou.
Na noite de sexta-feira, mais um motociclista perdeu a vida nas pistas do Distrito Federal. Por volta de 22h, Ademir Silva Souza, de 26 anos, conduzia a Honda Titan KS (KFA-3545/DF), no terminal de cargas do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Segundo a Polícia Civil, Admir perdeu o controle da moto e colidiu no meio-fio. Ele estava de capacete, mas não resistiu aos ferimentos. As causas do acidente são investigadas pela 8ª DP (Estrutural/SIA).
Formação ruim
O diretor do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Délio Cardoso, acredita que parte do problema se deve à má formação dos motociclistas. “Ele tira carteira por necessidade, mas não sai da auto-escola preparado. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) não nos permite incrementar novas exigências ao exame prático”, disse.
O professor Joaquim Aragão, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), avalia que o crescimento da frota de motos é um voto negativo da população ao transporte coletivo de Brasília. Na opinião dele, as autoridades de trânsito terão de estabelecer novas gestões de circulação para diminuir os acidentes e as mortes que envolvem motoqueiros. “Há que pensar no estreitamento de uma faixa destinada exclusivamente aos motociclistas”, sugeriu. Mas, para ele, a principal arma do poder público é o investimento na educação. “É preciso incrementar as campanhas educativas para motociclistas e motoristas. Eles precisam entender que a convivência deve ser harmoniosa”, concluiu Aragão.
Em uma reunião da Associação Nacional dos Detrans, na última quinta-feira, ficou decidido que a emissão da carteira de motociclista deve ser mais rigorosa. Assim como a transferência de pontos da Carteira Nacional de Habilitação. A proposta será formulada por Délio Cardoso — que também é diretor regional da Agência Nacional dos Detrans — e entregue ao deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), relator do projeto de lei que deve modificar o Código de Trânsito Brasileiro. (AB)
Exigências da lei
O serviço de motoboy acaba de ser regulamentado no Distrito Federal. A medida vai mudar a rotina de 25 mil trabalhadores. Se, por um lado, o reconhecimento da profissão é uma conquista para quem encontrou no motociclismo um meio de subsistência, de outro, possibilitará ao poder público controlar o setor.
As exigências são rigorosas e devem tirar do mercado quem trabalha no improviso. O colete, o capacetes e as motos serão padronizados. As regras já estão valendo, mas o prazo para adequação é de seis meses. As exigências estão detalhadas na edição de 19 de março do Diário Oficial do Distrito Federal. Por meio do Decreto nº 28.880, de 18 de março, o governo definiu que o sistema de transportes e prestação de serviços com a utilização de motocicletas, ou moto-frete, “é um serviço público com veículo de aluguel”. Sendo de aluguel, a moto deverá ter a placa especial, pintada nas cores vermelha e branca. Caberá ao Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) fazer o registro do veículo tipo motocicleta na categoria aluguel, conforme regulamentação da Resolução nº 219/2007 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).
Para trabalhar como motoboy, o motociclista terá de conseguir dois documentos: o Certificado de Qualificação de Motociclista e a Licença Moto-frete, ambos expedidos pela Secretaria de Transportes. O primeiro é um atestado de que o motociclista está habilitado a atuar no serviço de moto-frete. O segundo é uma autorização do governo para que ele exerça a função no DF.
Colete, capacete e antena
O motoboy terá de usar colete e capacete diferenciados dos demais. A moto deverá ter uma antena anti-cerol. E o profissional só poderá transportar produtos que caibam dentro do baú da motocicleta. O tamanho do baú será padronizado. Deve medir no máximo 60 cm de largura por 70 cm de altura. O comprimento não poderá ultrapassar a extremidade traseira do veículo. Já a grelha — suporte de fixação do baú — deverá ter largura máxima de 60 cm e comprimento que não ultrapasse a extremidade traseira da moto (veja arte acima).
Pouco mais de uma semana após a publicação do decreto de regulamentação do serviço, o motoboy Rodrigo Lopes da Silva, 35 anos, já desfilava com o colete diferenciado. “Isso aqui dá 100% de visibilidade. É muito melhor”, afirmou. No entanto, Rodrigo desconhecia as novas regras para a motocicleta, baú e capacete. “Isso aí não ouvi dizer, mas acho certo”, disse.
Na avaliação do vice-presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF (Sindmoto), Luiz Carlos Galvão, a regulamentação vai mudar radicalmente o setor. “Quem quiser ficar, ou entrar no mercado, vai ter de se preparar. Fazer curso. Isso é muito bom”, avaliou. Os coletes e capacetes diferenciados vão destacar o profissional do usuário comum. “Se acontecer qualquer coisa, estará claro, para quem quiser ver, qual das duas categorias fez bobagem”, completou. O governo doou os primeiros 1 mil coletes — patrocinados pelo Branco de Brasília — ao Sindmoto. Eles estão sendo distribuídos entre os filiados.
O governo também terá de se preparar para cobrar dos motoboys as regras do decreto. O secretário de Transportes, Alberto Fraga, explicou que caberá à sua secretaria, licenciar, gerir e administrar o serviço de moto-frete. O DF-Trans terá a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento das exigências. “Em 6 de abril teremos concurso com 200 vagas para o DF-Trans. Precisamos definir uma área específica para as vistorias aconteçam” completou Fraga. (AB)
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