terça-feira, 26 de agosto de 2008

Becos - Ceilândia


Juliana Boechat - Estagiária do Correio Braziliense
Parte da matéria de Guilherme Goulart publicada em 27 de agosto de 2008
Foto: Cadu Gomes


Ceilândia é a região administrativa com o maior número de becos desocupados. Há 338 nas mais variadas situações. O balanço da Codhab identificou, por exemplo, que 64 apresentam alguma irregularidade e poderão ser retomados pelo governo local. Aqueles que poderão receber edificações seguirão o PDL da cidade. A norma prevê que os espaços ociosos do centro urbano mais populoso do DF recebam, com prioridade, novas unidades imobiliárias. Mas há também projetos de revitalização e uso comum, como construção de praças.

Os planos urbanísticos locais passam pelas QNO, QNP, QNN e QNM. A maioria dos becos fica nas duas últimas. Há 213 desocupados e 53 com algum tipo de construção. Entre eles, a do marceneiro Cisto Alves Duarte, 64 anos. Ele mora de favor no Lote 13, Conjunto D, da QNM 4. Ao lado da casa dele, há um beco abandonado, o 13A. À primeira vista, lembra reduto de entulhos dos mais variados tipos. Mas o local acabou transformado em ambiente de trabalho há 25 anos.

O autônomo usa o lugar pedaços para estocar pedaços de madeira recolhidos na rua. Quando o material está do tamanho certo, sem pregos, ele coloca na caçamba da Kombi e leva a restaurantes com forno à lenha. Cada montante vendido rende R$ 100. Cisto sabe da proibição de trabalhar na área pública. Por isso, pensou em construir um galpão regularizado junto ao GDF. Cumpriu todas as etapas, e os vizinhos ainda aprovaram a presença dele no local. Mas não conseguiu juntar o dinheiro necessário para a conclusão do projeto. "Eu ganho pouco. A prioridade é comprar comida", justificou.

Assim, em vez do galpão, o marceneiro cercou o terrenos com arame. No espaço tem de tudo: latas de tinta vazias, colchões, um canteiro com flores roxas e um vira-lata para proteger o material. Segundo ele, não há perigo. Ele também fica de plantão até meia-noite para garantir que ninguém vá colocar fogo na madeira. Cisto também admitiu não vê problemas caso o lote seja retomado para a construção de um imóvel. "Quando quiserem construir casa aqui, eu limpo tudo e saio, sem problemas. Mas, enquanto eu puder, vou trabalhar neste beco", disse.

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