terça-feira, 18 de setembro de 2007

Governo planeja ensino integral na rede pública do Distrito Federal

NaPrática - jornal laboratório do IESB

O governo pretende oferecer atividades extras, transporte e alimentação reforçada sem aumentar o orçamento da educação e a quantidade de professores




O ensino público do Distrito Federal está em 10º lugar no ranking de qualidade educacional realizado anualmente pelo Ministério da Educação. O governo pretende se espelhar em alguns estados brasileiros para desenvolver projetos e melhorar a educação básica da capital. O governador do DF, José Roberto Arruda, foi apresentado ao programa de ensino em horário integral implantando em 30 escolas do município paranaense de Pato Branco. O programa bem sucedido está sendo avaliado e poderá ser adaptado a 620 escolas da rede pública de Brasília e Regiões Administrativas, a partir do início de 2008.

O “Escola Integral” será implantado gradativamente, de acordo com o projeto educacional apresentado por pais, alunos e professores. Com o programa, o objetivo é diminuir a evasão escolar e melhorar o Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) da capital federal. Serão oferecidos aos alunos atividades físicas, culturais e reforço escolar fora do horário regular da aula. Segundo a Secretaria de Educação do DF, o acréscimo seria de duas a três horas por dia na grade curricular.

O projeto pretende oferecer também transporte e alimentação reforçada aos alunos. Mas, conforme a Secretaria, o orçamento previsto de R$3,2 milhões e o número de profissionais da educação contratados não seriam modificados. Hoje em dia, o sistema público de ensino conta com aproximadamente 45 mil servidores e escolas em condições precárias. Segundo o diretor do Centro de Ensino Médio da Asa Norte (Cean), Jovandir Botelho de Andrade, a estrutura física precisa ser melhorada e os professores serão suficientes somente se o número de alunos for reduzido. “Não temos capacidade de receber os alunos em uma jornada de ensino de oito horas. Ou diminui o número de alunos ou aumenta as escolas”, diz Jovandir.

O Cean já oferece o que é previsto pelo projeto. Os 800 alunos dos dois turnos podem escolher entre as 15 oficinas diversificadas durante o tempo de aula. A diferença, com a implantação do projeto, seria a transferência dessas atividades extras para o outro período. Para o diretor, as aulas extracurriculares são importantes no aprendizado do aluno, pois é a prática daquilo que é ensinado na sala de aula. “Mas isso não é simples”, diz Jovandir. “Se o governo não consegue fazer investimento necessário no que já temos, também não conseguirá fazer um investimento além. Não estou otimista”, conta.

O Sindicato dos Professores (Sinpro) tem uma posição clara a respeito do projeto. “Defendemos a bandeira da educação integral, mas não da maneira que o governo prevê”, explica a professora da Diretoria Colegiada do Sinpro, Berenice D’arc Jacinto. Os professores do ensino público devem cumprir 25 horas em sala de aula e 15 horas de coordenação por semana. “A quantidade de professores não contempla a quantidade de alunos em horário integral. É necessário de, no mínimo, 25% de servidores a mais”, afirma.

No Cean, falta segurança e uma quadra de esportes para os alunos praticarem. “A quadra tem sido uma seqüência de decepções”, explica o diretor do Cean. A oportunidade de ganhar uma quadra decente já esteve próxima diversas vezes, mas o dinheiro sempre era desviado para outra finalidade.

Com a mensalidade de R$2.700, a Escola Americana de Brasília apresenta uma realidade oposta. A cultura norte-americana de ensino propõe o horário integral. As aulas começam às 9h e acabam às 15h. Até às 17h, os alunos permanecem no campus para as aulas extracurriculares. Segundo o diretor da escola, Derek des Vignes, uma das questões mais importantes é que as atividades extras ajudem a melhorar a auto-estima dos alunos. “Se conseguimos incentivá-los nos esportes e no que eles fazem bem, eles levam essa auto-estima pra dentro da sala de aula”, explica.

Na escola particular, os alunos não sofrem com as condições de infra-estrutura. A coordenadora de atividades extracurriculares da Escola Americana de Brasília, Cattarina Galles, explica que, como a escola recebe alunos de classe alta, “desenvolvemos programas sociais para conscientizar as crianças dos problemas sociais do mundo”. Derek garante que manter um ensino de qualidade requer muito trabalho, recurso financeiro e a conscientização da comunidade envolvida. “A escola deve criar um ambiente agradável onde as crianças queiram ficar; os professores precisam entender a maior responsabilidade; e o governo precisa se conscientizar que os gastos de manter uma criança o dia inteiro na escola são muito maiores”, explica. Ele diz que é preciso acreditar na mudança para ela acontecer. A implantação de um projeto dessa magnitude pode demorar anos para se consolidar.

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