quarta-feira, 31 de outubro de 2007

GDF recolhe 32 toneladas de lixo das margens do Lago Paranoá

Duzentos agentes ajudam a limpar o lago. Em quatro dias foi encontrado o dobro da última limpeza, feita há dois anos


NaPrática - jornal laboratório do IESB

Muitos brasilienses usam o Lago Paranoá para praticar esportes, passear e pescar nos finais de semana. Muitos também utilizam os 37 km² de água como depósito de lixo. Oito meses sem chover e cadeiras, sofás, latas e garrafas ficaram à mostra nas margens, chamando atenção do GDF a respeito do estado crítico do cartão postal da cidade. Durante a semana do dia 23 ao dia 26 de outubro, o Serviço de Limpeza Urbano (SLU), organizou um mutirão e recolheu 32 toneladas de lixo, o dobro da última limpeza, realizada há dois anos.

O saldo do último trabalho, realizado há dois anos por iniciativa voluntária da antiga Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semar), atual Secretaria de Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (Seduma), foi de 15 toneladas em uma semana de serviço. Dessa vez, a operação acontece por parte do Governo do Distrito Federal e reúne diversas instituições para promover a limpeza da orla, como Corpo de Bombeiros Militar do DF (CBM), Companhia Energética de Brasília (CEB) e algumas ONGs.

Durante essa semana, limite entre a seca e o início das chuvas no Distrito Federal, o lago apresentou o menor nível de água de todo o ano. Normalmente em 1080 metros em relação ao nível do mar, registrou, nesses quatro dias, 960 metros. A CEB ainda ajudou a diminuir o volume aumentando o trabalho da hidrelétrica da Barragem do Paranoá para facilitar o trabalho dos agentes nas margens. Com as turbinas ligadas durante o dia inteiro, a CEB também gerou mais energia para a população do DF.

O Corpo de Bombeiros ajudou na limpeza sub-aquática das margens e a empresa Eco Atitude intermediou o contato da SLU com a cooperativa de reciclagem Superação. A ONG presenciou o último dia de limpeza, quando tiveram acesso a todo o material arrecadado do lago, mas, segundo o presidente da cooperativa, Francisco de Assis Almeida Linhares, grande parte do material está contaminado de alguma forma e talvez seja possível reciclar apenas 10% do material recolhido. Segundo ele, a inutilização dos materiais acontece quando o objeto tem muito contato com o sol, água ou com bactérias decompositoras. “A estrutura intermolecular é alterada e não conseguimos mais reciclar, então mandamos para o lixão”, explica Assis.

A diretora-geral da SLU, Fátima Có, dividiu os agentes em seis frentes que trabalharam em conjunto. Onde uma frente acabava o serviço, a outra começava, dando continuidade e agilidade ao trabalho realizado na margem e dentro das águas. Segundo a diretora, os pontos mais críticos são a Ponte do Bragueto, no final da Asa Norte e no Bananal, um dos braços hídricos que compõe a bacia do Lago Paranoá, onde é encontrada grande quantidade de resíduos sólidos e Aguapés.

Segundo o professor de mestrado em Ecologia no Instituto de Ciências Biológicas da UnB, Paulo Sérgio Bretas de Almeida Salles, a proliferação dessa planta demonstra a grande quantidade de nutrientes no lago, normalmente vinda de resíduos de esgoto e lixo. “Até um certo ponto, os Aguapés ajudam a limpar a água, mas passam a ser prejudiciais quando aumentam muito”, explica. Segundo ele, um dos motivos é por cobrirem a superfície da água, diminuindo o nível de fotossíntese das algas e plantas submersas.

É melhor prevenir

O Lago Paranoá é um dos poucos casos em que o alto nível de poluição foi revertido. Hoje em dia, a situação é amena. “A qualidade da água é boa, o que gera a democratização do espaço e permite que a população faça bom uso do Lago”. Segundo ele, os brasilienses têm que usar, para gostar, e cuidar do lago.

O mutirão visa ao menos amenizar a situação do Lago Paranoá e o SLU não planeja realizar outras ações como essa. O objetivo é prevenir a sujeira e evitar que o estado fique crítico novamente. A atuação durante essa semana não será uma ação isolada. Segundo Fátima Có, haverá uma maior fiscalização, busca de esgotos clandestinos, limpeza de bocas de lobo e uma agenda ambiental para o ano todo. Ela ainda enfatiza que essas ações não seriam tão urgentes se a população se conscientizasse a respeito do Lago Paranoá. “Só estamos limpando porque alguém sujou”, diz. Todo o lixo recolhido será levado ao Distrito de Limpeza, na L4 sul, para ser selecionado e reciclado.

Ivani Paula da Silva, 32 anos, é mãe de quatro crianças e, aos finais de semana monta seu acampamento embaixo da ponte do Bragueto. É quando instituições de caridade e carros param para fazer doações às famílias. Ela confessa que uma vez ou outra joga resíduos no Lago Paranoá. “A gente acaba jogando algumas caixas, garrafas e latas”, diz. O motivo é simples: “Não tenho como carregar tudo isso”. Para ela, o lago é muito grande, e ela acredita que sua atitude não altera a qualidade da água. “Tanto é que meus filhos adoram tomar banho de lago quando ficamos aqui”, explica.

Segundo o professor Paulo Sérgio Bretas, um dos maiores motivos de poluição do lago é a construção urbanística desordenada na orla. Com construções fora dos limites e regras, acontece o assoreamento do lago, formando bancos de areia e em casos extremos, a extinção do lago. Hoje em dia, o Lago se encontra cerca de 10% menor do que foi há dois anos.

O professor é otimista e diz que, como é um lago artificial, as chances de ser completamente assolado são pequenas. “Cada vez mais as crianças e pessoas estão preocupadas com a questão ambiental, o que nos dá motivos para celebrar”, diz. “Mas os setores produtivos parecem cada vez mais gananciosos, acabando com a vegetação nativa da região”, contrapõe. Sessenta por cento da área de Brasília é protegida por lei, o que dificulta alguns tipos de ações. “A questão do Meio Ambiente é pauta em vários países do mundo, e parece que o DF não acompanhou essa tendência e ainda precisa de muita vontade e conscientização”, diz.

Como a capital do Brasil se encontra em uma área em que o clima é desagradável durante o ano inteiro, foi necessária a construção do lago para amenizar o microclima da cidade. Com os 37 km² de área, tornou-se possível manter temperatura estável, influenciar na formação de chuvas, no desenvolvimento de plantas, fotossíntese, renovação de oxigênio, além de possibilidade a prática da pesca, esportes náuticos e geração de energia.

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