domingo, 2 de março de 2008

Seca ainda atinge o Paranoá


Juliana Boechat - Estagiária do Correio

O Lago Paranoá é um dos cartões-postais mais famosos de Brasília. Com 40 quilômetros quadrados de extensão, o reservatório artificial ameniza o clima seco da capital e oferece diversão para centenas de brasilienses. Mas o lazer e a prática de esportes no local estão ameaçados. A chegada da temporada de chuvas ainda não foi suficiente para apagar a marca dos oito meses de seca no Planalto Central: o Paranoá está perto do seu nível mínimo.

Normalmente, o volume do reservatório é de mil metros e oito centímetros em relação ao nível do mar. Hoje, a marca está cerca de 1m50 abaixo do normal e 90 centímetros a menos do que o registrado em dezembro do ano passado. Com isso, algumas embarcações encalharam e outras nem são retiradas das marinas, pois arrastam o casco no fundo do lago. A Companhia Energética de Brasília (CEB) é a responsável pelo nível da água do lago e pela produção de energia na Barragem do Paranoá. Segundo o diretor da CEB Geração, Hamilton Costa Naves, a queda no índice é resultado da falta de chuva, que também fez baixar a produção de energia elétrica para 13 megawatts diários: o mínimo exigido pelo Setor Elétrico Brasileiro.

“Ainda faltam 11 dias para terminar o mês e temos menos da metade de água que tivemos ano passado”, lamenta Naves. Em 2006, a Bacia do Paranoá recebeu 1,7 mil milímetros quadrados de água de chuva. Este ano, foram 950 milímetros quadrados. “Em junho, julho e agosto desse ano não choveu, então temos que torcer agora para que caia água”, completa o diretor da CEB Geração.

O superintendente da Agência Reguladora de Água e Saneamento (Adasa), Diógenes Mortari, diz que a instituição acompanha diariamente o nível do reservatório, impedindo que o lago fique com menos água do que o previsto. “Até um pouco antes do período das chuvas, a CEB produz mais energia para diminuir o nível. Quando começam as chuvas, o lago está pronto para ficar cheio novamente. É até uma boa maneira de renovar as águas. Isso acontece todos os anos”, explica Mortari.

Estranhamento
O marinheiro da náutica Nauss, Josélio Freires da Rocha Júnior, tem 22 anos — 10 deles trabalhando às margens do Paranoá. Ele nunca viu o reservatório tão baixo. Nas bordas, em vez de cobri-lo, a água bate em suas coxas. A cena preocupa o diretor-executivo da náutica, Marcelo Cunha. “Na época do réveillon, as pessoas gostam de passar a virada no meio do lago. Esse ano, eu não sei como vai ser”, comenta. Segundo Cunha, há cerca de 45 dias, as embarcações com mais de 30 pés (1m50) não entram no lago, pois os barcos podem bater no fundo do lago ou encostar a lateral fora da área de proteção do cais, arranhando-a ou amassando-a.

Na margem do condomínio Lake Side, a água deixa à mostra 1m20 de parede. Dagoberto Silva, o Carioca, tem 46 anos e veleja em Brasília há sete. Apaixonado pela profissão de mecânico e marinheiro, ele diz que trabalhar no Lago Paranoá é recompensador. “Mas é preciso ter cuidado com o lago, o relevo é cheio de altos e baixos”, explica. Carioca não teve problemas com a redução do nível do reservatório, pois trabalha com pequenas e médias embarcações.

Mas, para João Felipe de Medeiros Neto, responsável pela maior e mais pesada embarcação do Paranoá, o baixo nível da água é um percalço. A caravela O Condestável está inclinada, apoiada em um monte de lama, na beira do clube Nipo, no Setor de Clubes Sul. Atualmente, o leme está quebrado e o conserto só será possível quando o nível do reservatório voltar ao normal. “Se o barco tivesse encostado no chão mesmo, corria o risco de tombar”, detalha João Felipe.

O presidente da Federação Náutica de Brasília, José Adalberto Alves da Costa, diz que o número de pessoas que praticam esportes no lago diminuiu significativamente. “A última vez que tivemos um nível baixo como esse, foi por pouco tempo. Agora, o número de adeptos dos esportes náuticos chegou a diminuir em 50%”, reclama.

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa a repórter que fez esta matéria e o blog dela esta show.
Beijos

Breno Fortes
www.brenofortes.com