domingo, 2 de março de 2008

Para acreditar no sonho

Juliana Boechat - Estagiária do Correio

Um espaço democrático à espera do artista. Assim pode ser resumido o tradicional ponto de cultura que a capital da República ergueu em 1975, na 508 Sul, e que, 21 anos depois, ganhou o nome de Espaço Cultural Renato Russo. Uma homenagem muito especial da cidade a um dos maiores poetas do rock brasileiro, que despontou para o sucesso em Brasília, onde morou desde os 13 anos de idade e colocou o Planalto Central no topo das paradas de sucesso, com músicas cantadas por todo o país, como Eduardo e Mônica, que conta a história de dois jovens da capital federal.

Localizado na Avenida W3 Sul, numa das quadras mais antigas da cidade que o músico gostava de descrever como um lugar único, o espaço cultural atraiu cerca de 20 mil pessoas no ano passado, com 141 eventos que incluíram exposições, espetáculos diversos, oficinas, peças teatrais, palestras e lançamentos de livros. O prédio tem 13 salas, que abrigam galerias, galpões, salas de teatro, uma gibiteca e a biblioteca.

O visitante dispõe de duas entradas principais, uma pela W3 e outra, na W2. Mas, em qualquer uma que escolher, vai se deparar com uma grande galeria, onde se encantará com exposições de várias partes do mundo. Se olhar para cima, verá o extenso banco de madeira que contorna o mezanino onde jovens costumam aproveitar o sossego para ler. Por uma escada no canto da galeria chega-se a uma varanda voltada para a W3. É ali, em meio a corredores tortuosos e paredes arredondadas que ficam a diretoria, a gibiteca, a biblioteca e a musiteca.

A proposta é democratizar a arte. “Aqui não há curadoria. Se temos espaço e o artista, disposição, expomos o trabalho dele. Não julgamos se algo é bom ou não é”, explica o fotógrafo Rui Faquini, que em 2007 assumiu a direção do espaço. Se depender do diretor, o espaço vai retomar os ideais dos primeiros anos de criação e valorizar as variadas manifestações e o conceito da arte. Ele conta que, em 1977, quando o espaço ainda engatinhava, quis mostrar, no local, que o que realmente importa é o conceito da arte e não a técnica para fazê-la. Para provar que era possível, Faquini ministrou uma oficina de fotografia sem máquina fotográfica. Bastava uma folha de papel com um quadrado recortado no meio e, com os olhos no espaço vazio, os alunos treinavam o enquadramento e a observação. “Com o domínio do olhar é possível fazer qualquer coisa”, afirma o diretor.

Idéias diferentes
No espaço cultural é possível ensaiar peças de teatro, participar de rodas de discussão, fazer exposições e apresentações. Segundo Faquini depois de 31 anos de criação o espaço ainda mantém os princípios de democratizar a arte e aceita qualquer tipo de manifestação cultural, da mais simples à mais elaborada. De acordo com a coordenadora Johanne Madsen, o espaço está pronto para receber propostas diferentes, como a do grupo de teatro que pediu para usar o local nas madrugadas, durante a semana. “Nós abrimos as portas para eles”, conta, satisfeita. Com essa filosofia, o espaço mantém vivo o pensamento de Renato Russo, que dizia: “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem”.

Muito procurado pelo público, o lugar sempre atrai, com exposições de artistas conhecidos ou iniciantes. Um dos lugares mais visitados é a gibiteca, com mais de 2,5 mil gibis cadastrados e outros 10 mil guardados por falta de espaço ou por ainda não estarem cadastrados. “Muitas crianças carentes vêm aqui. Eu lhes ensino a cuidar do material e a escutar o que os colegas têm a dizer. O resultado é maravilhoso”, orgulha-se a aposentada do Ministério da Cultura Zinaide Lustosa Elvas Nogueira, 57 anos, que ganhou o nome de Rainha da Gibiteca pela dedicação ao trabalho no local.

Sempre movimentado, o espaço também abriga grupos de dança, teatro e oficinas. A diretora teatral Bárbara Tavares reuniu os amigos Zizi Antunes, Nei Cirqueira e Silvia Paes para montar a peça infantil Pelega e porca prenha na mata do pequi, prevista para estrear em março. Como a peça precisa e um galpão alto para apresentações com cenários de pano, a Sala Multiuso surgiu como o local perfeito para o trabalho. “Sempre que mandei o projeto pedindo um horário para usar a sala fui atendida”, conta Bárbara. Sem o apoio do espaço cultural, eu não conseguiria produzir essa peça. É um incentivo muito bom para quem está começando”, reconhece.

Nenhum comentário: