domingo, 30 de março de 2008

25 novas motos por dia no DF


Pauta de capa sugerida em 24.03.08

Escrito por:
Adriana Bernardes
Da equipe do Correio

Uma invasão de motocicletas transforma o trânsito no Distrito Federal. Desde 2000, em média, 25 motos entram em circulação a cada dia na capital do país. O aumento da frota nos últimos sete anos e dois meses chega a 254%. Isso representa mais do que o dobro do crescimento registrado no Rio de Janeiro. E é três vezes e meia maior do que o ocorrido em São Paulo no mesmo período.

Atualmente, 91.924 motocicletas trafegam pelas ruas e avenidas da capital do país. Há sete anos, eram 25.973 (veja quadro). Em São Paulo, o crescimento da frota (de 658.973) foi de 74% e no Rio de Janeiro (de 153.750), de 102% no mesmo período. Na cidade que tem em média um carro para cada dois habitantes e está prestes a alcançar a marca de 1 milhão de veículos, o crescimento da frota de motos só piora a situação. Ainda mais que, por serem mais vulneráveis, os motoqueiros normalmente levam a pior em caso de acidente.

Para o diretor do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Délio Cardoso, o aumento do número de motocicletas no trânsito brasiliense pode ser explicado por causa das facilidades em adquirir o veículo de duas rodas. É ainda mais barato do que um carro e várias concessionárias permitem prestações a perder de vista. “O poder aquisitivo do brasiliense é um dos mais altos do país. Além disso, ainda não temos, lamentavelmente, um transporte público de qualidade”, avalia Délio Cardoso.

Ele prevê a estabilização da frota assim que o projeto Brasília Integrada for concluído. Por meio dele, o governo pretende oferecer um transporte público rápido, integrado e de qualidade, além de melhorar o sistema viário do DF. “A moto não contribui para engarrafamento. Mas exige mais cuidado do motorista”, afirma Délio.

As mudanças no trânsito são facilmente percebidas. Basta prestar atenção ao semáforo. Sempre que a luz vermelha acende , os motociclistas, a maioria com caixas no espaço do carona, trafegam pelo corredor — espaço entre um carro e outro— e param à frente dos veículos. Quando o sinal abre, eles são os primeiros a arrancar. A cena ocorre nos principais cruzamentos do Plano Piloto, Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. É a prova de que os serviços de motoboy ganham a preferência de empresas de telentrega. Trafegar pelo corredor, no entanto, é proibido pelo Código de Trânsito Brasileiro. Mas não é a única imprudência.

De cada 10 motos apreendidas pela fiscalização do Detran-DF, quatro são por falta de habilitação do piloto. Há nove dias, um motoclista sem carteira atropelou e matou o comerciante Keiji Kubota, 68 anos, que atravessava em uma faixa de pedestres em Sobradinho II. A neta da vítima, de apenas 7 anos, assistiu a tudo.

Ziguezague
O Correio percorreu a área central do Plano Piloto, de Taguatinga e a Via Estrutural na última sexta-feira. Flagrou motociclistas ziguezagueando entre os carros, em manobras de retorno proibido e trafegando em alta velocidade. Eram 8h50, quando os policiais da Companhia de Polícia Rodoviária Militar se preparavam para liberar a Estrutural sentido Plano Piloto-Taguatinga. Enquanto os carros faziam fila um atrás do outro, as motos se aglomeravam na frente. Às 9h, eram 15 no total. Entre eles, o motoboy Euzelton Lucas Viana, 27 anos. Ele vendia jornais no semáforo, mas, há um ano, decidiu trocar de ramo. “Este (motoboy) é o mercado que mais cresce. Diariamente, a gente vê muitos acidentes. Mas quem tem atenção, não se machuca”, afirmou.

Conversar com motoristas e motociclistas sobre a convivência no trânsito implica ouvir trocas de acusações. O comerciante Carlos José Vieira 37 anos, anda mais cauteloso. “Esses motoqueiros andam entre os carros. A maioria dos acidentes que a gente vê por aí, é por conta disso. Eles não costumam respeitar a sinalização”, reclamou. “O problema é que o motorista não respeita a gente. Acha que porque o carro é maior, pode fazer o que quiser e você tem que se virar para não bater nem se desequilibrar, desabafou o pintor Elias Andrade da Silva, 30, morador do Setor P Norte. Há um ano, ele usa a moto como meio de transporte. “É mais rápido e barato que o carro. E de ônibus não dá”, completou.

Entre os motociclistas, existem os que usam a moto como meio de transporte, os que dependem dela para conseguir o sustento e os que são apaixonados pelo veículo. O professor de educação física e empresário Wilson Phillip, 44 anos, se enquadra no último perfil. Chegou a ter quatro motos na garagem. Sofreu cinco acidentes de trânsito, em três deles, só usava sunga e tênis. A causa foi a imaturidade, a inexperiência e a irresponsabilidade. Eu corria muito. Achava que não ia dar tempo de chegar aos lugares. Pegava a moto e acelerava, confessou. O mais grave deles resultou na lesão de um músculo responsável pelos movimentos das mãos. Wilson demorou quase três meses para recuperá-los.

A paixão de Wilson por motos só não falou mais alto que o amor pelas filhas Camila, 18 anos, Yasmin, 15 e Bruna, 4 anos. Por elas, decidiu vender as motocicletas. A última delas, há quatro anos, quando Bruna nasceu. Mas o capacete ele guarda até hoje. “Não vendo, não empresto e não dou”, brincou. Wilson admite que está tentado a voltar a pilotar. “Mas só se a minha mulher deixar. Ultimamente está ainda mais arriscado do que no passado. O trânsito está muito pesado. Se eu tiver outra moto, será para matar a saudade de vez em quando”, disse.

Acidentes aumentam
O crescimento da frota de motos também piora as estatísticas de acidentes e de mortes de motociclistas no trânsito do Distrito Federal. Em 2000, a equipe de resgate do Corpo de Bombeiros atendeu 1.076 chamados envolvendo motoqueiros. Esse número subiu para 5.837 no ano passado — um crescimento de 442,4%. As mortes também ficaram mais freqüentes: aumento de 114% no mesmo período.

Uma das vítimas da carnificina que se tornou o trânsito das motocicletas é a família Leal. O gerente comercial Antônio Celso Leal, então com 40 anos, trafegava pela pista de ligação do Eixão Sul com o balão do Aeroporto, quando o carro da frente freou bruscamente para fazer um retorno. Celso bateu na traseira do veículo. Fraturou a costela e teve um dos pulmões perfurado. Morreu três minutos após a colisão.

A tragédia ocorreu há cinco anos. A funcionária pública Selma do Rego Leal, 38, perdeu o marido no dia em que o filho caçula completava 7 anos. “Ele veio em casa só para almoçar com a família e comemorar o aniversário do mais novo”, relembrou. O motorista do carro era um homem de 83 anos, que, segundo a família, não prestou socorro. Uma testemunha anotou a placa e ele foi julgado e condenado. “Só nós perdemos nesta história toda. De tudo, fica só a saudade”, desabafou.

Na noite de sexta-feira, mais um motociclista perdeu a vida nas pistas do Distrito Federal. Por volta de 22h, Ademir Silva Souza, de 26 anos, conduzia a Honda Titan KS (KFA-3545/DF), no terminal de cargas do Setor de Indústria e Abastecimento (SIA). Segundo a Polícia Civil, Admir perdeu o controle da moto e colidiu no meio-fio. Ele estava de capacete, mas não resistiu aos ferimentos. As causas do acidente são investigadas pela 8ª DP (Estrutural/SIA).

Formação ruim
O diretor do Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF), Délio Cardoso, acredita que parte do problema se deve à má formação dos motociclistas. “Ele tira carteira por necessidade, mas não sai da auto-escola preparado. O Departamento Nacional de Trânsito (Denatran) não nos permite incrementar novas exigências ao exame prático”, disse.

O professor Joaquim Aragão, do Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Universidade de Brasília (UnB), avalia que o crescimento da frota de motos é um voto negativo da população ao transporte coletivo de Brasília. Na opinião dele, as autoridades de trânsito terão de estabelecer novas gestões de circulação para diminuir os acidentes e as mortes que envolvem motoqueiros. “Há que pensar no estreitamento de uma faixa destinada exclusivamente aos motociclistas”, sugeriu. Mas, para ele, a principal arma do poder público é o investimento na educação. “É preciso incrementar as campanhas educativas para motociclistas e motoristas. Eles precisam entender que a convivência deve ser harmoniosa”, concluiu Aragão.

Em uma reunião da Associação Nacional dos Detrans, na última quinta-feira, ficou decidido que a emissão da carteira de motociclista deve ser mais rigorosa. Assim como a transferência de pontos da Carteira Nacional de Habilitação. A proposta será formulada por Délio Cardoso — que também é diretor regional da Agência Nacional dos Detrans — e entregue ao deputado federal Hugo Leal (PSC-RJ), relator do projeto de lei que deve modificar o Código de Trânsito Brasileiro. (AB)

Exigências da lei
O serviço de motoboy acaba de ser regulamentado no Distrito Federal. A medida vai mudar a rotina de 25 mil trabalhadores. Se, por um lado, o reconhecimento da profissão é uma conquista para quem encontrou no motociclismo um meio de subsistência, de outro, possibilitará ao poder público controlar o setor.

As exigências são rigorosas e devem tirar do mercado quem trabalha no improviso. O colete, o capacetes e as motos serão padronizados. As regras já estão valendo, mas o prazo para adequação é de seis meses. As exigências estão detalhadas na edição de 19 de março do Diário Oficial do Distrito Federal. Por meio do Decreto nº 28.880, de 18 de março, o governo definiu que o sistema de transportes e prestação de serviços com a utilização de motocicletas, ou moto-frete, “é um serviço público com veículo de aluguel”. Sendo de aluguel, a moto deverá ter a placa especial, pintada nas cores vermelha e branca. Caberá ao Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) fazer o registro do veículo tipo motocicleta na categoria aluguel, conforme regulamentação da Resolução nº 219/2007 do Conselho Nacional de Trânsito (Contran).

Para trabalhar como motoboy, o motociclista terá de conseguir dois documentos: o Certificado de Qualificação de Motociclista e a Licença Moto-frete, ambos expedidos pela Secretaria de Transportes. O primeiro é um atestado de que o motociclista está habilitado a atuar no serviço de moto-frete. O segundo é uma autorização do governo para que ele exerça a função no DF.

Colete, capacete e antena
O motoboy terá de usar colete e capacete diferenciados dos demais. A moto deverá ter uma antena anti-cerol. E o profissional só poderá transportar produtos que caibam dentro do baú da motocicleta. O tamanho do baú será padronizado. Deve medir no máximo 60 cm de largura por 70 cm de altura. O comprimento não poderá ultrapassar a extremidade traseira do veículo. Já a grelha — suporte de fixação do baú — deverá ter largura máxima de 60 cm e comprimento que não ultrapasse a extremidade traseira da moto (veja arte acima).

Pouco mais de uma semana após a publicação do decreto de regulamentação do serviço, o motoboy Rodrigo Lopes da Silva, 35 anos, já desfilava com o colete diferenciado. “Isso aqui dá 100% de visibilidade. É muito melhor”, afirmou. No entanto, Rodrigo desconhecia as novas regras para a motocicleta, baú e capacete. “Isso aí não ouvi dizer, mas acho certo”, disse.

Na avaliação do vice-presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do DF (Sindmoto), Luiz Carlos Galvão, a regulamentação vai mudar radicalmente o setor. “Quem quiser ficar, ou entrar no mercado, vai ter de se preparar. Fazer curso. Isso é muito bom”, avaliou. Os coletes e capacetes diferenciados vão destacar o profissional do usuário comum. “Se acontecer qualquer coisa, estará claro, para quem quiser ver, qual das duas categorias fez bobagem”, completou. O governo doou os primeiros 1 mil coletes — patrocinados pelo Branco de Brasília — ao Sindmoto. Eles estão sendo distribuídos entre os filiados.

O governo também terá de se preparar para cobrar dos motoboys as regras do decreto. O secretário de Transportes, Alberto Fraga, explicou que caberá à sua secretaria, licenciar, gerir e administrar o serviço de moto-frete. O DF-Trans terá a responsabilidade de fiscalizar o cumprimento das exigências. “Em 6 de abril teremos concurso com 200 vagas para o DF-Trans. Precisamos definir uma área específica para as vistorias aconteçam” completou Fraga. (AB)

sábado, 29 de março de 2008

No tempo dos quintais




Juliana Boechat - Estagiária do Correio

Assim que Lucas Victor da Silva, 12 anos, chega da escola, ele almoça, faz o dever de casa e vai para a rua brincar com os amigos. O grupo de seis garotos gosta de jogar bola, soltar pipa e andar de carrinho de rolimã. Ele tem computador, mas acha sem graça ficar em casa e conversar com os amigos pela internet. E então, inventa as brincadeiras e constrói junto com os colegas e o pai os brinquedos de rua, como antigamente.

Pipa, carrinho de rolimã e bete (jogo infantil originado do beisebol) são as suas especialidades. Ele até se compara com um dos personagens mais famosos de Ziraldo, o Menino Maluquinho, que brincava na rua, criava brincadeiras e despertava curiosidade nas crianças e saudade nos pais, que viviam assim na infância. Essa realidade pode parecer demodê para alguns, mas ainda é possível encontrar crianças que preferem brincar na rua a ficar dentro de casa no computador.

As brincadeiras de antigamente são divertidas e baratas, mas com o passar do tempo foram trocadas por computadores, videogames e tecnologias caras. Para Lucas, passar a tarde na rua é, além de um momento de diversão, um grande passa tempo: “Quando saímos para brincar, ficamos quase o dia inteiro na rua. Reúno todos os meus amigos aqui perto e jogamos bola, soltamos pipa, andamos de patinete e nos divertimos muito”, conta.

Criatividade
Ele ainda vai mais além e monta os brinquedos com peças que encontra perto de casa ou que acha em algumas lojas no comércio, como foi o caso do patinete de rolimã. “Achei madeiras na minha casa, meu amigo pegou umas rodinhas na borracharia e meu pai ajudou a pregar as tábuas para criar o rolimã”, conta como se fosse fácil. Depois foi só reunir os amigos no alto da rua e descer com o vento no rosto, a parte preferida da brincadeira.

Também foi dele a idéia do material para jogar bete. O kit vendido em lojas é composto por dois tacos de madeira e duas casinhas, também de madeira, industrializadas e bem bonitinhas. Durante o jogo, cada dupla tem que derrubar a casinha do adversário com o rebate da bola, normalmente não muito dura para não machucar as crianças.

Quando Lucas e os amigos resolvem jogar bete, eles pegam dois cabos de vassoura, uma bolinha qualquer e montam as casinhas com garrafas pet de refrigerante. Lucas sempre gostou de montar os brinquedos, mas antes disso costumava fazer pulseiras em casa com a mãe e a tia em dias chuvosos em que ele não podia sair. Depois foi só juntar o útil ao agradável.

Os modernos
Mas encontrar um Lucas por aí pode não ser tão comum como já foi um dia. Carrinho de rolimã virou patinete motorizado, pular corda é a última opção das meninas e brincadeiras com elástico e pião ficaram realmente fora de moda. Para ser cool hoje, tem que ter os videogames e computadores modernos e saber conversar tudo sobre tecnologia.

Enquanto pais e avôs têm que ler manuais de aparelhos tecnológicos, a geração atual age como se já nascesse sabendo. Clara Maul Canedo Xavier, 9 anos, vive entre o mundo das brincadeiras de rua e da magia dos computadores. As conversas dos amigos de escola são sobre videogame e outros jogos virtuais. Mas mesmo que ela tenha um computador e saiba usá-lo perfeitamente, prefere ir à rua brincar com as amigas.

Talvez essa não seria a realidade de Clara se a mãe dela, apaixonada pelas brincadeiras que teve na infância, não tivesse dado um empurrãozinho. “Na minha infância, esses brinquedos e brincadeiras tinham grande valor, então tento passar um pouco dessa realidade para ela”, conta a mãe Fernanda. “Se brinco no computador, fico sozinha. Prefiro ir para a rua com meus amigos”, explica Clara.

Fernanda deu a Clara como presente do Dia das Crianças do ano passado um conjunto de cinco-marias. O jogo é muito simples, mas requer concentração e testa reflexos. São cinco saquinhos recheados de grãos ou, em caso de improviso, servem até mesmo pedrinhas. A pessoa joga um dos saquinhos para cima e, enquanto ainda está no ar, pega outro pacotinho no chão bem rápido, em tempo de agarrar o que está no ar, antes que toque no chão. O grau de dificuldade aumenta toda vez que as cinco-marias são capturadas.

Convivência
Para as crianças, também faz parte da diversão montar os brinquedos, organizar as brincadeiras e aí sim brincar. Lucas constrói os brinquedos, mas Clara compra todos prontos. Há opção para todo mundo. Várias lojas em Brasília se especializaram em brinquedos feitos de pano e madeira e que relembram a “velha infância”. A dona de uma das lojas, Valéria Grassi, explica que tem prazer em proporcionar o resgate da imaginação dos jovens.

“Hoje em dia, as crianças ficam adultas cada vez mais cedo, elas ganham brinquedos já prontos e não precisam se esforçar em nada”, analisa. O professor do instituto de psicologia da Universidade de Brasília (UnB), Áderson Luiz Costa Junior, concorda com Valéria e acrescenta que, para ele, a maior qualidade dos brinquedos e brincadeiras antigas é a convivência em grupo.
As brincadeiras vão além da diversão, são verdadeiras lições de vida. “A oportunidade de se envolver com esses brinquedos estimula a socialização da criança e trabalha a interação social”, explica o psicólogo. Segundo ele, desde criança a pessoa que se diverte dessa maneira aprende a perder, a criar regras, a esperar, além de identificar modelos diferentes de comportamento e achar a própria personalidade.

domingo, 2 de março de 2008

Temporal inunda e pára capital




























Juliana Boechat - Estagiária do Correio

A Avenida das Nações parou ontem, por volta das 18h. Devido à forte chuva do final da tarde os transtornos no trânsito atingiram todo o Plano Piloto, desde o viaduto do aeroporto, próximo à Vila Telebrasília, a vias e quadras das asas Sul e Norte. Dois ônibus atolaram e impediram a passagem dos carros perto do Setor Policial Sul, 115 Sul e a L2 Sul. A água subiu o meio-fio e chegou na metade das rodas de um dos ônibus, que parou de funcionar no meio do caminho com 60 pessoas a bordo.

Outro ônibus cheio de passageiros tentou desviar o caminho e passar por cima do canteiro alagado, mas atolou. Motoqueiros tentavam enfrentar a grande quantidade de água, mas seis das 13 motos falharam. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou que a chuva durou cerca de três horas e que transtornos como os de ontem devem continuar até as primeiras semanas de março. Por causa da tempestade, os eixinhos, o Eixão e a L4 ficaram engarrafados.
Por ser a principal via de ligação entre algumas cidades e o Plano Piloto, a Avenida das Nações parou e provocou retenções de tráfego em outras vias de fuga para o centro da capital. O ônibus que ficou parado no meio da água levava os passageiros da Esplanada dos Ministérios ao Riacho Fundo 1. Os passageiros esperaram mais de uma hora até outro veículo da empresa chegar para continuar o trajeto. Uma grávida e um homem passaram mal dentro do carro cheio.

Enquanto isso, o engarrafamento ao longo das vias que têm ligação com a Avenida das Nações começaram a se formar. Na L4, os carros formaram uma fila de 5km que acabava perto do Clube Nipo, no Setor de Clubes Sul. Motoristas impacientes encontravam jeitos de sair do engarrafamento e se arriscavam pela contramão. Marta de Godoy Bastos, 40 anos, disse ter ficado 37 minutos no engarrafamento, quando decidiu ir para o outro lado da via.

Escoamento
Em outros pontos do DF a chuva também causou transtornos. No Guará, uma moto e um carro colidiram, mas não houve feridos. No Eixo Monumental, um carro também bateu em uma moto, mas ninguém se machucou. Moradores de cidades como Estrutural, Taguatinga, Guará, Sobradinho, entre outros, também enfrentaram alagamentos e retenções de trânsito.

O Secretário de Obras, Márcio Machado, explica que o motivo dos alagamentos é que a rede de drenagem pluvial é insuficiente para 1 milhão de quilômetros de vias urbanas e 5 mil km de rede de drenagem. “Ao longo do tempo, a quantidade de construções aumentou e aos poucos o solo ficou impermeabilizado. Precisamos de outras formas de escoar a água”, diz. Obras para melhorar o sistema de escoamento da água das chuvas devem começar até agosto.

Brasiliense morre em cachoeira




Juliana Boechat - Estagiária do Correio

O secretário da Comissão de Relações Exteriores da Câmara dos Deputados, Fernando Luiz Cunha Rocha, 48 anos, morreu ontem, às 11h, num acidente em Alto Paraíso (GO). O secretário estava de férias com a família na cidade, quando resolveu visitar uma das quedas d'água mais famosas da região, a Cachoeira Raizama. Fernando, a esposa, a mãe e os dois filhos chegaram ontem de manhã cedo e logo saíram para passear. Nas pedras mais altas do ponto turístico, Fernando pulou na água para tirar foto, mas na volta escorregou e desapareceu na queda d’água de 50 metros de altura. O passeio virou uma tragédia. Fernando foi levado pela correnteza e caiu de cabeça em uma região cheia de pedras. Ele morreu na hora.

O Grupo de Guias de Alto Paraíso, com prática de resgates desse tipo, retirou o corpo do local antes que fosse levado pela correnteza. O sargento do Batalhão de Busca e Salvamento do Corpo de Bombeiros, Luiz Antônio Aquino Caetano, chegou ao local para auxiliar o resgate e encontrou a família do secretário já a caminho do Instituto Médico Legal (IML) de Formosa (GO). Ele explica que nessa época do ano, os acidentes se tornam mais freqüentes por causa da quantidade de chuva. “Resgatamos pessoas que caem no rio e não conseguem sair devido à grande força da água”, relata. Mas diz que em 2008 ainda não tinha ocorrido nenhum caso de queda nas cachoeiras de Alto Paraíso.

No verão, os cuidados dos turistas nas cachoeiras próximas ao Distrito Federal devem ser redobrados. Segundo o chefe de comunicação dos Bombeiros, major Rogério Soares, os banhistas devem se informar se não está chovendo na cabeceira do rio em que vão se banhar. “Se chove no começo do rio, o volume de água aumenta e a força é muito maior, formando as trombas d’água”, explica. A queda do Raizama tem 50 metros de altura e está localizada na fazenda de mesmo nome. O local fica perto do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, próximo à cidade de São Jorge a 239 km de Brasília. A cachoeira costuma receber pessoas que querem acampar, praticar rapel ou esportes radicais, como canoagem.

Fernando Luiz tem uma casa em São Jorge onde costumava passar férias e feriados. Ele trabalhava na Câmara dos Deputados havia cerca de 30 anos, e se tornou secretário da Comissão de Relações Exteriores em 2001. Uma colega de trabalho que não quis se identificar disse que os funcionários do gabinete do secretário ficaram muito abalados com a notícia. “Trabalhamos juntos há sete anos, eu gostava muito dele. Era uma pessoa boa e competente, que conseguia manter toda a equipe unida”, lembra.

O chefe da comunicação dos Bombeiros, major Rogério Soares, diz que os cuidados para quem visita cachoeiras valem para qualquer época do ano. Segundo ele, as pedras ao redor das quedas d'água costumam ser muito lisas, limpas e escorregadias, e ficam ainda mais perigosas com água. Os banhistas não devem entrar no rio sozinhos nem deixar crianças desacompanhadas; também não é seguro mergulhar de ponta, pois o movimento de água modifica o relevo do rio. Se alguém estiver se afogando, o resgate deve ser auxiliado por uma corda ou um galho e, se a pessoa não souber nadar direito, não deve pular na água para ajudar.

Para acreditar no sonho

Juliana Boechat - Estagiária do Correio

Um espaço democrático à espera do artista. Assim pode ser resumido o tradicional ponto de cultura que a capital da República ergueu em 1975, na 508 Sul, e que, 21 anos depois, ganhou o nome de Espaço Cultural Renato Russo. Uma homenagem muito especial da cidade a um dos maiores poetas do rock brasileiro, que despontou para o sucesso em Brasília, onde morou desde os 13 anos de idade e colocou o Planalto Central no topo das paradas de sucesso, com músicas cantadas por todo o país, como Eduardo e Mônica, que conta a história de dois jovens da capital federal.

Localizado na Avenida W3 Sul, numa das quadras mais antigas da cidade que o músico gostava de descrever como um lugar único, o espaço cultural atraiu cerca de 20 mil pessoas no ano passado, com 141 eventos que incluíram exposições, espetáculos diversos, oficinas, peças teatrais, palestras e lançamentos de livros. O prédio tem 13 salas, que abrigam galerias, galpões, salas de teatro, uma gibiteca e a biblioteca.

O visitante dispõe de duas entradas principais, uma pela W3 e outra, na W2. Mas, em qualquer uma que escolher, vai se deparar com uma grande galeria, onde se encantará com exposições de várias partes do mundo. Se olhar para cima, verá o extenso banco de madeira que contorna o mezanino onde jovens costumam aproveitar o sossego para ler. Por uma escada no canto da galeria chega-se a uma varanda voltada para a W3. É ali, em meio a corredores tortuosos e paredes arredondadas que ficam a diretoria, a gibiteca, a biblioteca e a musiteca.

A proposta é democratizar a arte. “Aqui não há curadoria. Se temos espaço e o artista, disposição, expomos o trabalho dele. Não julgamos se algo é bom ou não é”, explica o fotógrafo Rui Faquini, que em 2007 assumiu a direção do espaço. Se depender do diretor, o espaço vai retomar os ideais dos primeiros anos de criação e valorizar as variadas manifestações e o conceito da arte. Ele conta que, em 1977, quando o espaço ainda engatinhava, quis mostrar, no local, que o que realmente importa é o conceito da arte e não a técnica para fazê-la. Para provar que era possível, Faquini ministrou uma oficina de fotografia sem máquina fotográfica. Bastava uma folha de papel com um quadrado recortado no meio e, com os olhos no espaço vazio, os alunos treinavam o enquadramento e a observação. “Com o domínio do olhar é possível fazer qualquer coisa”, afirma o diretor.

Idéias diferentes
No espaço cultural é possível ensaiar peças de teatro, participar de rodas de discussão, fazer exposições e apresentações. Segundo Faquini depois de 31 anos de criação o espaço ainda mantém os princípios de democratizar a arte e aceita qualquer tipo de manifestação cultural, da mais simples à mais elaborada. De acordo com a coordenadora Johanne Madsen, o espaço está pronto para receber propostas diferentes, como a do grupo de teatro que pediu para usar o local nas madrugadas, durante a semana. “Nós abrimos as portas para eles”, conta, satisfeita. Com essa filosofia, o espaço mantém vivo o pensamento de Renato Russo, que dizia: “Nunca deixe que lhe digam que não vale a pena acreditar no sonho que se tem”.

Muito procurado pelo público, o lugar sempre atrai, com exposições de artistas conhecidos ou iniciantes. Um dos lugares mais visitados é a gibiteca, com mais de 2,5 mil gibis cadastrados e outros 10 mil guardados por falta de espaço ou por ainda não estarem cadastrados. “Muitas crianças carentes vêm aqui. Eu lhes ensino a cuidar do material e a escutar o que os colegas têm a dizer. O resultado é maravilhoso”, orgulha-se a aposentada do Ministério da Cultura Zinaide Lustosa Elvas Nogueira, 57 anos, que ganhou o nome de Rainha da Gibiteca pela dedicação ao trabalho no local.

Sempre movimentado, o espaço também abriga grupos de dança, teatro e oficinas. A diretora teatral Bárbara Tavares reuniu os amigos Zizi Antunes, Nei Cirqueira e Silvia Paes para montar a peça infantil Pelega e porca prenha na mata do pequi, prevista para estrear em março. Como a peça precisa e um galpão alto para apresentações com cenários de pano, a Sala Multiuso surgiu como o local perfeito para o trabalho. “Sempre que mandei o projeto pedindo um horário para usar a sala fui atendida”, conta Bárbara. Sem o apoio do espaço cultural, eu não conseguiria produzir essa peça. É um incentivo muito bom para quem está começando”, reconhece.

Seguraaaaa, coração!


Juliana Boechat - Estagiária do Correio

Janeiro com sol em Brasília é um convite irrecusável para sair de casa. No Parque da Cidade, um dos destinos mais procurados nos dias ensolarados, o Nicolândia Center Park, centro de diversões localizado próximo ao Quiosque do Atleta, atrai olhares curiosos e anima crianças que passeiam pelo lugar. À noite, o parque chama mais a atenção, com as milhares de luzes coloridas que dão forma aos brinquedos. Em uma área de 20 mil metros quadrados, o Nicolândia oferece 35 brinquedos e uma capacidade para suportar 10 mil pessoas, como foi comprovado no último Dia da Criança. Durante a semana, cerca de 300 crianças passam elo parque, mas o número sobe para 3 mil aos sábados e domingos.

O Nicolândia existe desde a criação do Parque da Cidade, em 1978, e virou alternativa da meninada até para a comemoração dos aniversários. Foi o caso de Nátaly Bijos Gouveia, que decidiu festejar a chegada de seus 14 anos divertindo-se no local, com um grupo de 11 amigos, todos na faixa dos 13 aos 15 anos. Cheios de energia, os amigos gritavam nos brinquedos mais emocionantes, corriam e riam o tempo inteiro. Para eles, o único problema era decidir se iam na parte da frente ou atrás no carrinho da montanha russa. A aniversariante conheceu os amigos pela internet há um ano e teve a idéia de reuni-los no centro de diversões.

Para Laio Gonçalves de Seixas, 15 anos, que freqüenta o parque desde a infância, o lugar está bem melhor, com a cerca e a revitalização dos brinquedos. Além de diversão, o parque oferece uma pequena praça de alimentação, em uma área coberta, com mesas que ficam à disposição para os pais que querem descansar, comer e beber enquanto esperam os filhos. As barracas vendem churros, crepes, milho cozido, maçã do amor, pipocas e pastéis. Vendedores de sorvete são os únicos com autorização para circular entre os brinquedos, atraindo os visitantes entre uma brincadeira e outra.

Ofegante, o adolescente Anderson Marsniwz Pereira, 16 anos, desceu do tobogã com a irmã mais nova de 4 anos, Ingrid Rosa Pereira. “Ela ainda não pode ir sozinha. Mas, no final das contas, eu também gosto desse brinquedo”, afirma. Para ele, que mora em apartamento, o Nicolândia é uma boa opção de diversão. Ingrid não via a hora de escorregar de novo nas ondas do tobogã, que agora estão pintadas de azul para imitar as águas do mar e dar mais veracidade à brincadeira. São 15m de altura que provocam frio na barriga a cada descida, e é isso o que mais atrai a menina. “Eu gosto da aventura”, conta, impaciente para voltar ao brinquedo. Ela corre à frente do irmão, mas volta gritando: “Quero ir de novo!”. E Anderson atende ao pedido.

Sensações fortes
Marco Antônio Gomes de Sousa, gerente do Nicolândia, confirma que os brinquedos mais procurados são os que provocam sensações mais fortes nas pessoas. A montanha-russa, o tobogã e o American Show são os preferidos. “Mas não é suficiente, o público agora quer o Ranger. Até o final do mês vamos instalar o brinquedo. O espaço já está reservado”, diz Sousa, apontando para um campo aberto ao lado da montanha-russa. O brinquedo é formado por duas cabines presas a duas hastes em forma de alicate, que giram e deixam as pessoas de cabeça para baixo.

No final do ano passado, novos brinquedos foram instalados a pedido do público e, agora, o maior parque de diversões fixo da cidade está com três novidades. Um novo carrossel, outra pista de bate-bate e o American Show. “Foi um presente de Natal para as crianças. Do dia 25 ao primeiro dia do ano, o parque chegou a receber 5 mil pessoas”, revela Sousa. O American Show, um caminhão metalizado e um pouco barulhento, com um dos lados vazado, virou o grande sucesso do parque. Dentro do brinquedo, as crianças passam por vários obstáculos e atravessam por esguichos de fumaça. Mas o funcionário do parque Pedro Henrique prefere não contar o que acontece lá dentro e faz suspense: “Para saber a verdadeira sensação, tem que entrar”.

Durante as férias, o parque tende a ficar cada vez mais movimentado. A procura cresce com as colônias de férias, que só acabam em fevereiro, quando recomeçam as aulas. A colônia Brincando sem Barreiras, que atende crianças com necessidades especiais, levará um grupo de 40 pessoas para se divertir no Nicolândia, no dia 18. Segundo a coordenadora do grupo, Andréa Ribeiro, alguns brinquedos podem ajudar a dar confiança e diminuir o medo das pessoas com deficiência. “Além de seguro, é um bom ambiente para a criançada. Existe todo o clima de parque de diversões, além do contato com outras crianças”, explica Andrea.

Todo dia é fim de semana


Juliana Boechat - Estagiária do Correio

O Parque da Cidade é uma das áreas de lazer mais antigas de Brasília. Criado em 1978, atrai pessoas de todos os jeitos, com objetivos variados e fica marcado na memória de todos os que passam pelo lugar. Os moradores do DF, pelo menos alguma vez, andaram de carro pelas ruas largas do parque, caminharam pela ciclovia, beberam água-de-coco em alguma barraquinha ou visitaram os brinquedos de um dos cinco playgrounds internos do parque. Crianças e adultos têm espaço e opção de lazer de sobra nos 4,2 milhões de metros quadrados de área verde no meio da cidade. De todos os brinquedos oferecidos, o mais lembrado pelas crianças é o foguete, com 15 metros de altura, colorido de amarelo e vermelho. Mas esse é só um entre os 35 brinquedos que compõem o parque Ana Lídia, o maior e mais bem cuidado playground do Parque Sarah Kubitschek.

Quarta-feira de férias, três horas da tarde, o sol está escaldante. Os brinquedos e a areia queimam os pés das crianças e, mesmo assim, o parque Ana Lídia está cheio. Nos dias de semana, 500 pessoas passam pelo lugar e, nos fins de semana, o parque chega a receber 2 mil visitantes. Na época das férias é como se fosse fim de semana todos os dias. Quem passa pelo lugar vê crianças correndo, adultos sentados nos bancos e pessoas deitadas em cangas embaixo das árvores. Mas é o foguete que gera curiosidade e atrai as maiores atenções de crianças, que formam fila para subir as escadas. O brinquedo é sucesso desde o início do Parque da Cidade. Várias gerações já desceram correndo a rampa, já tentaram se equilibrar na ponte bamba de madeira e fizeram do brinquedo cenário de fotos de infância.

O parque passou por duas reformas: uma em 2005 e a outra em novembro do ano passado. Nas duas vezes, os 35 brinquedos do Ana Lídia foram pintados, e os que estavam estragados foram reformados. Mas os casos mais críticos continuam sem conserto e sem previsão de reforma, como é o caso do gira-gira. O brinquedo redondo está torto, com um dos lados apoiado no chão e interditado. Ana Flávia Almeira Bertucci, 11 anos, lamenta não poder usar um dos seus brinquedos favoritos. Ela levou a prima, de Santos (SP), Tatiana Estevão de Araújo Rangel, pela primeira vez ao parque e as duas corriam sem parar. “Depois do gira-gira, gosto do foguete. É alto e tem obstáculos que a gente tem que vencer toda hora”, explica Ana Flávia. Ela diz que só vai ao parque nos fins de semana, e que a família toda fica satisfeita. “O parque todo é bom, todos os brinquedos são divertidos, tem um chuveiro e é grande. É um parque tamanho família”, diz a brasiliense.

O Ana Lídia tem um total de 21 mil metros quadrados, mas apenas 781 metros quadrados são ocupados com os 35 brinquedos. Há espaço suficiente para promover atividades nos fins de semana e feriados na cidade. Com barraquinhas de pipoca, de algodão doce, música e muita animação, o parque é visitado por famílias que gostam de se reunir e comemorar as datas festivas. No estacionamento acontecem várias atividades recreativas em datas especiais, como a comemoração do Dia das crianças e do 7 de setembro. Ali também é palco de eventos infantis como aulas e apresentação de circo, a Maratoninha e, na época do carnaval, o trio elétrico, conhecido como Baratinha.

O consultor de 37 anos, Luiz Henrique Rodrigues Siqueira, sempre que pode leva as três filhas ao parque Ana Lídia. Maria Clara, 9 anos, Ana Teresa, 7, e Gabriela, 5, ficam animadas e não param um instante. Mas, segundo o pai, nem correr durante duas horas faz com que elas durmam cedo. A filha mais nova toma cuidado para não queimar o pé no chão quente, mas isso não a faz desistir de brincar. Luiz Henrique acha o parque uma opção de lazer fabulosa”. “Os brinquedos são legais e eu prefiro trazer minhas filhas aqui a levar em um shopping. Isso aqui é diversão”, conta. Ele montou um circuito para levar as filhas em todos os brinquedos do playground. Eles passam pela ocas dos índios, pela carruagem, pelos balanços, pelos obstáculos montados no meio da areia e chegam ao foguete.

Gabriela adora a idéia do pai e diz que os brinquedos são divertidos e radicais. Mas a atração favorita da menina ocorre aos sábados, quando um grupo de animação leva cordas e pernas de pau para a criançada se divertir. Ela conta orgulhosa que já está andando um pouco sem segurar na corda. “É divertido, é um desafio”, diz, ao lado do pai. Com uma máquina fotográfica no bolso, Luiz está preparado para registrar todo o tempo de diversão das filhas e fica satisfeito de passar esse tempo com elas. Mas, mesmo sendo a melhor opção para diversão e para tirar as crianças de casa na época das férias, ele percebe que o espaço poderia ficar ainda melhor. “Podia ter mais bebedouros, mais lixeiras e alguns brinquedos poderiam ser consertados. A tendência é só melhorar”, diz.

Rotina de incerteza para ter documento

Juliana Boechat - Estagiária do Correio

Quem precisar tirar a primeira ou a segunda vias ou ainda renovar a carteira de identidade no DF terá de ter muita paciência para enfrentar filas e correr o risco de até não ser atendido. Os 18 postos (15 delagacias e três unidades do Na Hora) da Polícia Civil localizados no Plano Piloto e em outras cidades amanhecem o dia com filas e chegam a receber uma média de mil pessoas em busca do serviço, mas apenas 700 conseguem ser atendidas. Em algumas regiões os postos abrem a partir das 12h e distribuem cerca de 30 senhas todos os dias, com exceção de Planaltina e Gama que abrem durante o dia todo e, juntos, atendem até 100 pessoas (veja quadro).

No Plano Piloto, apenas a unidade do programa Na Hora, da Rodoviária e o posto policial da 112/113 Sul estão abertos à população. No posto da Asa Sul, que funciona a partir de meio-dia, a fila começa a se formar às 7h30, quando as pessoas que não foram atendidas na Rodoviária buscam outras opções. O Na Hora é o mais procurado. As senhas começam a ser distribuídas às 7h30, mas há quem chegue na Rodoviária às 5h, formando uma fila de até 200 pessoas. Apenas 90 são atendidas.

Vários fatores dificultam o atendimento nessa época do ano. O diretor adjunto do Instituto de Identidade da Polícia Civil, Taã Oliveira Queiroz, diz que a demanda aumenta 70% em janeiro, quando se compara a quantidade atendida ao longo do semestre letivo. Neste mês, muitas pessoas tentam regularizar a situação civil para viajar, inscrever-se em concursos, matricular-se em faculdades e escolas.

É também a época em que as pessoas têm tempo para resolver esse tipo de problema, que requer dedicação para acompanhar todas as etapas do processo. “Muitos preferem tirar carteira de identidade a tirar passaporte para viajar para os países próximos ao Brasil, como Argentina e Uruguai. Isso aumenta a demanda”, explica Taã.

Poucos funcionários
A falta de mão-de-obra é o maior problema. Em alguns casos, apenas um perito atende as pessoas, como acontece no posto de São Sebastião. Lá, o perito se esforça para atender 15 pessoas por dia, além de fazer os relatórios individuais dos casos e classificar as digitais para saber se estão válidas ou não, como é obrigatório em postos policiais. Desde 2005, apenas um perito trabalha no local que também atende os processos criminais, constantes devido à proximidade do posto com o presídio da Papuda. O Riacho Fundo é outro exemplo de dificuldade porque apenas uma perita e uma estagiária atendem no local. A Polícia Civil está ciente do problema, mas a situação vai demorar a mudar. A esperança de solução é o edital do concurso público da Polícia Civil.

Enquanto isso, os postos que antigamente atendiam a população no Plano Piloto, na 204 Norte e na 308 Sul, estão fechados e sem previsão de reabertura. A opção dos moradores é o posto da 112/113 Sul ou o Na Hora da Rodoviária. O posto da entrequadra abre às 12h, mas às 11h já tem mais de 50 pessoas na fila, mesmo que esse seja o número de pessoas atendidas por dia.

Hugo Junior Pereira, 16 anos, quer tirar a primeira carteira e diz que o pai insiste todos os dias para ele resolver o problema. “Ja é o quinto dia que eu tento e não consigo”, diz. Desta vez, ele chegou às 8h na fila para garantir a senha. Priscila Cruvinel Viscardi, 15 anos precisa renovar a carteira todos os anos porque a digital dela tem defeito e afirma que nunca teve tanta dificuldade para renovar o documento. “Quando cheguei às 7h na rodoviária as senhas já tinham acabado”, relata. Thaís Nascimento Silva, 25 anos, e Silmara Machado Mendes, 23, estavam no final da fila às 11h. Elas não sabiam quantas pessoas estavam na frente e se conseguiriam ser atendidas, e não é a primeira vez que procuram o serviço.

Luta para manter Eixão livre


Juliana Boechat - Estagiária do Correio

No dia 15 de março deste ano, o ciclista Norberto Fischer, 39 anos, foi atingido pelo retrovisor de uma van que entrou a 70 km/h no acostamento da QI 23 do Lago Sul. Depois de dois meses esperando para recuperar o movimento do braço e da perna direita, Fischer queria comemorar. Ele marcou com os amigos em um domingo, no Eixão, para uma grande volta de bicicleta e um piquenique embaixo de uma árvore.

Há 16 anos, milhares de brasilienses aproveitam o Eixão nos domingos e feriados para passear e praticar esportes. Mas no ano que vem, o cenário vai mudar: bicicletas darão lugar a automóveis. O motivo é a revitalização da BR-450, também conhecida como Estrada Parque Indústria e Abastecimento (Epia). A obra foi iniciada há 15 dias, mas a polêmica começou quando o Departamento de Estradas de Rodagem (DER) anunciou, no dia 12, que o Eixão serviria de alternativa aos motoristas que precisam usar a BR.

O presidente da ONG Rodas da Paz, Maurício Gonçalves, já se manifestou. Para ele, o Eixo é um grande espaço de cultura e atividades recreativas, e não se justifica tirar o sossego dos ciclistas e pedestres para beneficiar os motoristas. “As autoridades pensam em tudo para o veículo, mas nada a favor da democratização do espaço público”, critica. Maurício vai organizar um abaixo-assinado amanhã para saber o que as pessoas acham sobre a novidade elevá-lo aos responsáveis pela decisão. “Só não queremos que seja mais uma promessa provisória que vire permanente”, completa.

Romeu Correia de Macedo também é contra a abertura do Eixão para carros. Morador de Sobradinho, trabalha na Asa Sul e vai e volta do trabalho todos os dias de bicicleta. Mas, para ele, a bicicleta é mais que um veículo de locomoção, é motivo de passeio e lazer. “É no domingo que eu tenho tempo para curtir e andar tranqüilamente”, explica. Segundo ele, durante a semana, é muito perigoso andar no Eixão por causa da grande quantidade de veículos e da velocidade que eles desenvolvem na via. “Já faço isso há 12 anos, então o medo diminuiu, mas ainda levo sustos constantemente. Os carros passam muito perto da gente e não sinalizam. É muito perigoso”, conta. Ele ainda cita que aos domingos, o fluxo que desvia da Epia não vai ser tão grande, o que torna a pista mais perigosa: “Quando tem menos carro, eles andam mais rápido e é pior ainda para os pedestres e ciclistas”.

A obra da Epia está prevista para durar 370 dias. Enquanto isso, os eixos L e W, a Estrada Parque Taguatinga (EPTG) e a Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) vão servir de itinerários alternativos. O DER vai ainda construir um desvio de terra ao lado das faixas que serão recuperadas e uma faixa será liberada ao tráfego. Dos 36,8 km de pista, 15,6 km serão duplicados, do Balão do Torto ao trevo do Parkshopping. Para o superintendente de obras do DER, Rui Corrêa Vieira, quem passa na frente da Rodoferroviária vê a situação caótica do trânsito, o que torna a obra “extremamente necessária”. Para ele, as reclamações por causa da abertura do Eixão não têm fundamento. “É uma minoria reclamando de algo que será melhor para a maioria. Quem quiser praticar esportes e ter momentos de lazer, pode ir ao Parque da Cidade e ao Parque Olhos d’Água, por exemplo”, diz.

Especialista em segurança e trânsito e professor da UnB, David Duarte, explica que as vias têm uma capacidade máxima de peso e número de veículos, e diz que o transtorno é normal. “Quando você interrompe uma rua, se não houver uma reestruturação no resto da cidade, vira um caos. Uma das adequações às necessidades, pode ser a utilização do Eixão, sim”, diz. Para ele, a Epia precisa ser recuperada, pois é uma via que suporta veículos pesados e está bastante estragada. “Agora, a preocupação deverá ser com os ciclistas e pedestres no Eixão, para o número de acidentes não aumentar”, defende.

A opinião da população que mora perto do Eixão está dividida. Viviane da Silva Cardoso, 27 anos, mora no Rio de Janeiro e visita os pais em Brasília em finais de semana e feriados. Ela gosta de correr e andar no local. “Vai prejudicar um pouco, mas precisamos ter paciência. É apenas um dia na semana e uma alternativa é andar em volta da quadra”, explica. Mas a instrutora de yoga Janete Salvador é mais radical: “Achem outra solução. O governo me dá um problema, mas não me dá nenhuma solução”. Ela costuma andar com o cachorro aos domingos no Eixão e não gostou da novidade.

Seca ainda atinge o Paranoá


Juliana Boechat - Estagiária do Correio

O Lago Paranoá é um dos cartões-postais mais famosos de Brasília. Com 40 quilômetros quadrados de extensão, o reservatório artificial ameniza o clima seco da capital e oferece diversão para centenas de brasilienses. Mas o lazer e a prática de esportes no local estão ameaçados. A chegada da temporada de chuvas ainda não foi suficiente para apagar a marca dos oito meses de seca no Planalto Central: o Paranoá está perto do seu nível mínimo.

Normalmente, o volume do reservatório é de mil metros e oito centímetros em relação ao nível do mar. Hoje, a marca está cerca de 1m50 abaixo do normal e 90 centímetros a menos do que o registrado em dezembro do ano passado. Com isso, algumas embarcações encalharam e outras nem são retiradas das marinas, pois arrastam o casco no fundo do lago. A Companhia Energética de Brasília (CEB) é a responsável pelo nível da água do lago e pela produção de energia na Barragem do Paranoá. Segundo o diretor da CEB Geração, Hamilton Costa Naves, a queda no índice é resultado da falta de chuva, que também fez baixar a produção de energia elétrica para 13 megawatts diários: o mínimo exigido pelo Setor Elétrico Brasileiro.

“Ainda faltam 11 dias para terminar o mês e temos menos da metade de água que tivemos ano passado”, lamenta Naves. Em 2006, a Bacia do Paranoá recebeu 1,7 mil milímetros quadrados de água de chuva. Este ano, foram 950 milímetros quadrados. “Em junho, julho e agosto desse ano não choveu, então temos que torcer agora para que caia água”, completa o diretor da CEB Geração.

O superintendente da Agência Reguladora de Água e Saneamento (Adasa), Diógenes Mortari, diz que a instituição acompanha diariamente o nível do reservatório, impedindo que o lago fique com menos água do que o previsto. “Até um pouco antes do período das chuvas, a CEB produz mais energia para diminuir o nível. Quando começam as chuvas, o lago está pronto para ficar cheio novamente. É até uma boa maneira de renovar as águas. Isso acontece todos os anos”, explica Mortari.

Estranhamento
O marinheiro da náutica Nauss, Josélio Freires da Rocha Júnior, tem 22 anos — 10 deles trabalhando às margens do Paranoá. Ele nunca viu o reservatório tão baixo. Nas bordas, em vez de cobri-lo, a água bate em suas coxas. A cena preocupa o diretor-executivo da náutica, Marcelo Cunha. “Na época do réveillon, as pessoas gostam de passar a virada no meio do lago. Esse ano, eu não sei como vai ser”, comenta. Segundo Cunha, há cerca de 45 dias, as embarcações com mais de 30 pés (1m50) não entram no lago, pois os barcos podem bater no fundo do lago ou encostar a lateral fora da área de proteção do cais, arranhando-a ou amassando-a.

Na margem do condomínio Lake Side, a água deixa à mostra 1m20 de parede. Dagoberto Silva, o Carioca, tem 46 anos e veleja em Brasília há sete. Apaixonado pela profissão de mecânico e marinheiro, ele diz que trabalhar no Lago Paranoá é recompensador. “Mas é preciso ter cuidado com o lago, o relevo é cheio de altos e baixos”, explica. Carioca não teve problemas com a redução do nível do reservatório, pois trabalha com pequenas e médias embarcações.

Mas, para João Felipe de Medeiros Neto, responsável pela maior e mais pesada embarcação do Paranoá, o baixo nível da água é um percalço. A caravela O Condestável está inclinada, apoiada em um monte de lama, na beira do clube Nipo, no Setor de Clubes Sul. Atualmente, o leme está quebrado e o conserto só será possível quando o nível do reservatório voltar ao normal. “Se o barco tivesse encostado no chão mesmo, corria o risco de tombar”, detalha João Felipe.

O presidente da Federação Náutica de Brasília, José Adalberto Alves da Costa, diz que o número de pessoas que praticam esportes no lago diminuiu significativamente. “A última vez que tivemos um nível baixo como esse, foi por pouco tempo. Agora, o número de adeptos dos esportes náuticos chegou a diminuir em 50%”, reclama.

Cadeiras inteligentes

Juliana Boechat - Estagiária do Correio

Professores, alunos e ex-alunos dos cursos de engenharia mecânica, mecatrônica e desenho industrial da Universidade de Brasília (UnB) desenvolveram dois projetos voltados para eficientes físicos. Um é o kit motorizador para ser adaptado à cadeira de rodas, e o outro é um aparelho de fisioterapia para os deficientes. A tecnologia será entregue à Associação de Apoio aos Portadores de Necessidades Especiais (Adapte), que vai produzir as cadeiras e vendê-las. O diferencial é o custo do produto. No mercado, uma cadeira de rodas motorizada custa cerca de R$ 8 mil. Nesse projeto, a cadeira normal já com o kit acoplado custa cerca de R$ 2 mil. O aparelho de fisioterapia ainda não tem estimativa. Ao contrário do normal, os preços são baixos porque o material é brasileiro e de fácil acesso no mercado.

Ystonio Oliveira da Silva, 33 anos, é tetraplégico há 17. Por causa de uma briga, levou um tiro nas costas que o impossibilitou de andar. Para ele, a maior dificuldade é a força para puxar a cadeira. “Com o tempo o ombro começa a doer. Não somos jovens para sempre”, diz. A cadeira de rodas dele é comum e custou R$ 1,6 mil, quase o preço da cadeira motorizada desenvolvida pela UnB. Paulo Figueiredo, 39 anos tem uma doença hereditária. Ele tem uma cadeira especial que custou R$ 15 mil. “Não basta você comprar uma cadeira moderna; ela tem que te agradar, encaixar no seu biotipo. Já ter uma cadeira boa e acoplar só o motor é um avanço”, explica.

Novidades
A partir de junho de 2008, os deficientes físicos já poderão comprar o kit. É um joystick como o de videogame e uma bateria. Uma novidade — e facilidade — é que o motor pode ser acoplado ou desacoplado da cadeira quando o usuário quiser. O coordenador do projeto e professor do Departamento de Engenharia Mecânica da UnB, Carlos Humberto Llanos, explica que normalmente, as cadeiras motorizadas precisam ser empurradas quando ficam sem bateria. “Com esse novo sistema, se a bateria da cadeira acabar, o paciente consegue continuar manualmente”. A fisioterapeuta Karla Cristina Marques, que mostrou aos engenheiros quais são as necessidades dos deficientes físicos, acredita que o projeto seja inovador. “Aumenta a funcionalidade e a independência da pessoa. Agora, o usuário vai para onde quiser, quando quiser. E o preço é acessível”, festeja.

O outro produto lançado pela equipe é o aparelho de fisioterapia. É como se fosse uma bicicleta. Uma base e uma haste com pedais para encaixar os pés, e pedais para apoiar as mãos. Quem é paraplégico apóia os pés no pedal de baixo e, com as mãos no pedal de cima, força o movimento para exercitar as pernas. O tetraplégico — com paralisia em todos os membros — também podem se exercitar. Eles apóiam os pés e as mãos nos pedais e ligam o motor, que faz o movimento desejado. O sistema ainda apresenta um botão que regula a velocidade do exercício. “Esse aparelho dá a movimentação que o paciente não está apto a fazer. Por ficar muito tempo sentado, ele se acostuma à posição e fica propenso a lesões na pele e atrofias musculares”, explica Carla. Ela diz ainda que esse tipo de exercício já é realizado nas sessões de fisioterapia, mas que a força não é a mesma.

A empresa da encubadora da UnB pertence a ex-alunos de mecatrônica e foi uma das colaboradoras do projeto. Para o ex-aluno Carlos Alberto Cascão Júnior, a maior novidade da “bicicleta” é a possibilidade de controlar a velocidade dos pedais e ajustar a haste ao tamanho do usuário. Paulo César de Sousa, 33 anos, perdeu os movimentos das pernas e dos dedos da mão há sete anos, quando levou um tiro no pescoço que atingiu a medula. Ele diz que não utilizava a bicicleta nas sessões de fisioterapia porque não conseguia realizar o exercício de maneira correta. Por ter dificuldade de se movimentar, ele depende quase que totalmente dos filhos e de quem queira ajudá-lo.

Os responsáveis pela criação dos produtos — desde a idéia até a produção final — mostraram o resultado ontem, às 16h, na reitoria da UnB. O engenheiro mecatrônico da empresa Samuel César Júnior sente que apenas uma parte do projeto foi concluída. “Tem tudo para dar certo, basta a Adapte dar continuidade à produção”, diz.

A Adapte é uma entidade não governamental que desenvolve vários trabalhos sociais com os cadeirantes. Eles têm uma pequena oficina onde os voluntários associados consertam cadeiras, adaptam sistemas motorizados e fazem adaptações em carros. Mais de 600 cadeiras já passaram pelas mãos dos 2 mil associados da ONG. Eles recebem ainda sessões gratuitas de fisioterapia, aulas de informática e montagem de microcomputadores e oferecem cursos de alfabetização a jovens e adultos de Ceilândia.

Para realizar o projeto, UnB e Adapte se uniram para um bem comum. Com o financiamento da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a gerência da Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec) e uma bolsa do Ministério da Ciência e Tecnologia, a universidade conseguiu desenvolver o projeto.

Entre os melhores


Juliana Boechat - Estagiária do Correio

Um programa de rádio, visitas semanais a asilos, incentivos para diminuir a evasão e melhorar o rendimento dos alunos fizeram o Centro de Ensino Stella dos Cherubins, de Planaltina, ficar entre as seis melhores escolas do país em administração escolar, de um total de 1.551 colégios que se inscreveram no concurso Gestão Escolar — Destaque Nacional.

Na primeira fase, apenas uma escola de cada unidade da Federação foi selecionada, no entanto, três estados não enviaram representantes. Ou seja, o centro de ensino de Planaltina passou à frente das outras 620 escolas públicas do DF. Na segunda etapa, entre as 24 escolas selecionadas apenas seis instituições chegaram à final, o colégio de Planaltina perdeu a disputa para a escola Aprendizado Marista Padre Lancísio, do município de Silvânia (GO), mas teve o trabalho reconhecido em todo o Brasil. O resultado do prêmio, destinado a escolas da rede pública e promovido pelo Conselho Nacional dos Secretários Estaduais de Educação (Consed), União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Fundação Roberto Marinho e Unesco, foi divulgado na última terça-feira.

Para concorrer ao prêmio, as escolas inscritas deveriam apresentar os melhores projetos realizados em 2006. A Stella dos Cherubins concorreu com três ações. Os alunos do ensino médio e fundamental desenvolveram um programa diário chamado Rádio Intervalo. Outra atividade é que os estudantes mantêm forte relação com os asilos da idade — eles lêem para os idosos, doam cestas básicas e fazem apresentações de teatro e dança. A direção da escola ainda criou monitorias para melhorar o desempenho das crianças, diminuir a evasão e desenvolver a auto-estima.

A iniciativa de modificar o ensino na unidade escolar surgiu em 2004, após um incidente em que uma aluna matou outra. O trauma foi grande para funcionários e alunos, mas o colégio conseguiu dar a volta por cima. A dificuldade uniu o grupo em volta do ideal de promover um ambiente melhor e uma identidade forte. Hoje em dia, ninguém gosta de relembrar o assunto. As únicas coisas que importam são a união e o resultado positivo da reação com o desenvolvimento dos projetos extracurriculares. “Saber que temos o potencial de receber um prêmio dessa magnitude nos deixa orgulhosos de ter feito tudo que fizemos”, diz a coordenadora pedagógica Adriana Labatovicz Paiva.

Ela garante que o diferencial em relação às outras escolas é a força de vontade. “Todo mundo consegue fazer um trabalho como o nosso, mas não pode ter preguiça. Quando realizamos um trabalho desses, as oportunidades de crescer aparecem”, explica. O diretor Adimário Rocha Barreto garante que já é uma vitória a escola ter a melhor gestão do Distrito Federal. “O bom resultado nos deu auto-estima e a certeza de que estamos no caminho certo”, diz.

BINGOS E VENDA DE RIFAS
Os projetos da rádio e do apoio em asilos nasceram de idéias dos professores e da força de vontade de funcionários e alunos. As crianças promoveram bingos e venderam rifas para comprar os aparelhos de som para a rádio, de datashow para passar filmes e apresentar trabalhos. O diretor Adimário explica que, hoje em dia, ter aparelhos tecnológicos é importante para o aprendizado.

O programa de rádio apresentado pelos alunos na emissora é o Intervalo, que toca música antes das aulas e na hora do recreio. O programa é feito pelos alunos dos ensinos fundamental e médio. Com uma reunião prévia, eles decidem os assuntos do próximo programa e as músicas que serão tocadas. “Somos reconhecidos nos corredores porque fazemos o programa”, diz a aluna da 7ª série, Isabela Aguiar. Mas a produção do programa vai além de diversão. “Tenho que prestar atenção em qual é o meu dia de fazer a rádio, senão a escola fica sem notícia ou música. Além disso, tenho de tirar nota boa para participar do projeto”, explica.

Ela comenta que no início do ano a professora responsável pela rádio, Gizelma Augusto, explicou o trabalho que seria feito. Só os cinco alunos que se comprometeram a fazer o trabalho e a tirar notas boas levaram o projeto à frente. No início, a professora tinha de acompanhar de perto cada movimento dos alunos na sala de rádio. “Se eu não estivesse presente, eles ficavam perdidos, mas agora não é mais essencial. Eles aperfeiçoaram o trabalho sozinhos”, comenta Gizelma.